Folha de S. Paulo


Anac pede explicações à Gol após coreógrafa ser barrada em voo

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirmou na noite desta terça-feira que solicitou explicações à companhia aérea Gol em decorrência de uma suposta tentativa de barrar a coreógrafa Deborah Colker e familiares em um voo, por conta de uma doença de pele de seu neto.

O problema ocorreu ontem (19) durante uma viagem entre Salvador e o Rio de Janeiro. A agência afirmou, em nota, que "caso seja constatada alguma conduta inadequada praticada pela empresa em questão, a ANAC aplicará as medidas cabíveis que poderão gerar multas de R$ 4.000 a R$ 10 mil."

Coreógrafa aponta despreparo e diz que processará Gol
Coreógrafa e neto com doença rara são barrados em voo

Théo, que fará 4 anos amanhã (21), estava com a avó, a mãe e o pai quando um comissário os abordou já dentro da aeronave e perguntou sobre a doença da criança. O menino é portador de uma doença congênita chamada epidermólise bolhosa, que causa erupções na pele. A doença, porém, não é contagiosa.

Segundo Deborah, os detalhes da doença já tinham sido dados no momento do check-in. Ela afirma que havia uma médica na aeronave e um outro médico da Infraero chegou a embarcar para examinar o menino e confirmaram o diagnóstico, mas o piloto, porém, exigiu que fosse apresentado um atestado.

"Houve um total despreparo, uma total falta de profissionalismo e uma total falta de cuidado de lidar com a família e uma criança de 4 anos que presenciou uma ignorância, estupidez total já dentro do avião", afirmou Colker à Folha. "Na ida não precisou [de atestado]. Que abordagem é esse? Que critério é esse?".

Na nota, a Anac afirmou que pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, o piloto "é autoridade em voo e lhe é concedida a prerrogativa de desembarcar qualquer pessoa --desde que comprometa a boa ordem e a disciplina-- que ponha em risco a segurança da aeronave ou das pessoas e bens a bordo, bem como tomar as medidas necessárias à proteção da aeronave e das pessoas ou bens transportados, além de adiar ou suspender a partida da aeronave quando julgar indispensável à segurança do voo".

A agência ainda "recomenda aos passageiros que apresentem algum quadro de enfermidade ou especial, como a gestação, que busquem as orientações necessárias para embarcar junto à companhia aérea ou com seus médicos, caso seja necessário. Cada companhia aérea possui políticas próprias que são elaboradas conforme as orientações dos órgãos de vigilância sanitária e do CFM (Conselho Federal de Medicina)."

Também em nota, a Gol afirmou que cumpriu rigorosamente as recomendações do Manual Médico da IATA (sigla em inglês da Associação Internacional de Transportes Aéreos) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). "Lamentamos profundamente os transtornos causados à família com relação à forma como foi conduzido o cumprimento de tais recomendações. A estes e aos demais passageiros, pedimos sinceras desculpas", completou.

PROCESSO

Deborah afirmou que vai processar a Gol pelo constrangimento sofrido durante a viagem. "Lógico que vamos recorrer à Justiça. Pretendo processá-los e que todo o dinheiro desse processo seja revertido à pesquisa genética e que siga de exemplo para que não aconteça com mais ninguém. Tenho essa obrigação ética como avó, como mãe."

"Tinha dois policiais na porta do avião. A ideia era nos retirar da aeronave. Retirar o monstro de uma criança de quatro anos que tinha uma aparência estranha. Tenho que denunciar isso", afirmou a coreógrafa.

"Ele falou 'vó tava todo mundo falando de mim e olhando pra mim'. Ele é um guerreiro. Quem o conhece sabe que ele é uma criança exemplar", completou Deborah, que destacou ainda que os passageiros que estavam no voo foram solidários e também reclamaram do comportamento da tripulação.


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