Folha de S. Paulo


Coreógrafa barrada em voo aponta despreparo e diz que processará Gol

A coreógrafa Deborah Colker afirmou nesta terça-feira que a tentativa da companhia aérea Gol de barrar ela e a família de um voo devido à uma doença de pele do neto foi uma ação "nitidamente discriminatória, preconceituosa" e que foi provocada pelo despreparo dos funcionários.

Théo, que fará 4 anos amanhã (21), estava com a avó, a mãe e o pai quando foi vetado num voo de Salvador para o Rio de Janeiro por ser portador de uma doença congênita chamada epidermólise bolhosa, que causa erupções na pele. A doença, porém, não é contagiosa.

Coreógrafa e neto com doença rara são barrados em voo

"Houve um total despreparo, uma total falta de profissionalismo e uma total falta de cuidado de lidar com a família e uma criança de 4 anos que presenciou uma ignorância, estupidez total já dentro do avião", afirmou Colker à Folha.

O avião sairia de Salvador em direção ao Rio de Janeiro, ontem, quando um comissário os abordou já dentro da aeronave e perguntou sobre a doença da criança, e exigindo um atestado para permitir a permanência do menino. Segundo Deborah, os detalhes da doença já tinham sido dados no momento do check-in.

"Tínhamos explicado no check-in que não é contagioso, é uma doença de pele e que ele já viajou de avião várias vezes. Na sexta-feira (16), ele foi para Salvador de Gol e agora estava voltando. Ele tem um pai baiano que mora no Rio e que tem uma filha que mora naquele Estado, então é normal pra ele viajar".

Reprodução/Facebook/deborah.colker
Coreógrafa Deborah Colber com o neto Theo; os dois foram barrados em voo da Gol devido à doença de pele do garoto
Coreógrafa Deborah Colber com o neto Theo; os dois foram barrados em voo da Gol devido à doença de pele do garoto

Deborah ainda completou: "na ida não precisou [de atestado]. Que abordagem é esse? Que critério é esse? Tinha uma médica no avião, veio um médico da Infraero e mesmo assim foram duas horas no avião. É preciso preparo [dos funcionários], principalmente no caso de uma companhia importante, séria".

Em nota, a Gol afirmou que cumpriu rigorosamente as recomendações do Manual Médico da IATA (sigla em inglês da Associação Internacional de Transportes Aéreos) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). "Lamentamos profundamente os transtornos causados à família com relação à forma como foi conduzido o cumprimento de tais recomendações. A estes e aos demais passageiros, pedimos sinceras desculpas", completou.

A Anac afirma que, pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, o piloto é autoridade em voo. Pela norma, "o comandante exerce autoridade sobre as pessoas e coisas que se encontrem a bordo da aeronave e poderá desembarcar qualquer delas, desde que comprometa a boa ordem, a disciplina, ponha em risco a segurança da aeronave ou das pessoas e bens a bordo e tomar as medidas necessárias à proteção da aeronave e das pessoas ou bens transportados."

A agência afirmou ainda, em nota, que solicitou informações sobre o ocorrido à Gol e que,caso seja constatada alguma conduta inadequada praticada, será aplicada a medida cabível, que pode gerar multas de R$ 4.000 a R$ 10 mil.

A Anac ainda "recomenda aos passageiros que apresentem algum quadro de enfermidade ou especial, como a gestação, que busquem as orientações necessárias para embarcar junto à companhia aérea ou com seus médicos, caso seja necessário. Cada companhia aérea possui políticas próprias que são elaboradas conforme as orientações dos órgãos de vigilância sanitária e do CFM (Conselho Federal de Medicina)."

PROCESSO

Deborah afirmou que vai processar a Gol pelo constrangimento sofrido durante a viagem. "Lógico que vamos recorrer à Justiça. Pretendo processá-los e que todo o dinheiro desse processo seja revertido à pesquisa genética e que siga de exemplo para que não aconteça com mais ninguém. Tenho essa obrigação ética como avó, como mãe."

"Tinha dois policiais na porta do avião. A ideia era nos retirar da aeronave. Retirar o monstro de uma criança de quatro anos que tinha uma aparência estranha. Tenho que denunciar isso", afirmou a coreógrafa.

"Ele falou 'vó, tava todo mundo falando de mim e olhando pra mim'. Ele é um guerreiro. Quem o conhece sabe que ele é uma criança exemplar", completou Deborah, que destacou ainda que os passageiros que estavam no voo foram solidários e também reclamaram do comportamento da tripulação.


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