Antigos hotéis de luxo na região central de São Paulo, onde no século passado se hospedaram celebridades como o cantor Nat King Cole e o apresentador Chacrinha, vão passar a ser unidades habitacionais populares.
Pelo menos três estabelecimentos que tiveram seus tempos dourados na década de 1950 estão na lista: o ex-cinco estrelas Cambridge e os ex-quatro estrelas Lord Palace e Santos Dumont. Todos eles foram invadidos por movimentos de moradia no início do ano.
O Othon Palace, construído em 1954 e famoso por ter tido hóspedes ilustres, como a rainha Elizabeth 2ª, foi desocupado em junho por 800 famílias que moravam no local, mas tem destino incerto.
O Santos Dumont, na região da Luz -edificado quando a elite paulistana habitava a região-, teve anúncio de desapropriação em junho e vai ser reformado. O Cambridge, na avenida 9 de Julho, e o Lord Palace, na Santa Cecília, que foi conhecido como "Hotel dos Artistas", vivem um impasse.
As famílias instaladas neles querem prioridade para ocupar uma das unidades que serão oferecidas. Ambos os hotéis têm regulamento interno de comportamento para os "moradores", que rateiam as despesas comuns como água, energia e manutenção.
REFORMA
No Cambridge, os invasores reformaram toda a encanamento do imóvel, mas não há água em todos os 14 andares. É necessário buscar água no térreo e, para tomar banho, é preciso utilizar um dos banheiros coletivos no mesmo andar. Não há elevador funcionando.
Juracyr Patrício Pereira, 54, diz que, como moradia provisória, o local é melhor que muitos outros. "Pela contribuição que pago todo mês [R$ 130], nesta região não arranjaria nem lugar num cortiço."
Segundo ela, os moradores estão negociando com a Sabesp para que o fornecimento de água seja regularizado. Carmen da Silva Ferreira, 53, coordenadora da FLM (Frente de Luta pela Moradia), afirma que a invasão foi realizada porque, "mesmo depois de desapropriado, [o imóvel] não cumpria função social".
No antigo Lord Palace, há água em todos os apartamentos e o elevador está em funcionamento. De acordo com a Secretaria Municipal da Habitação, 25% das unidades habitacionais populares que serão criadas no centro da cidade serão geridas pelas entidades e movimentos sociais, que vão poder indicar quem vai comprar os apartamentos.