Folha de S. Paulo


Familiares e moradores da Rocinha fazem ato por explicações sobre Amarildo

Familiares de Amarildo de Souza, 43, e moradores da favela da Rocinha, na zona sul do Rio, fizeram um ato neste domingo (11) na parte baixa da favela para cobrar explicações pelo desaparecimento do pedreiro há quase um mês.

Convocado pela Anistia Internacional simbolicamente para o Dia dos Pais, o ato reuniu cerca de 50 pessoas, entre elas a mulher e os seis filhos do pedreiro. Uma faixa que questionava "quem matou o Amarildo" foi estendida no viaduto que dá acesso à favela.

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Amarildo desapareceu no último dia 14 após ser levado por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha para averiguação e nunca mais apareceu. Investigações recentes da polícia sugerem que o pedreiro poderia ter sido morto por traficantes de drogas da favela.

As imagens das câmeras de segurança da UPP, assim como os dados do GPS da viatura que conduziu Amarildo não foram disponibilizados. A polícia afirma que os equipamentos não estavam funcionando na ocasião. A polícia disse ainda que a esposa de Amarildo tinha ligação com o tráfico. Vinte oito dias depois do sumiço do pedreiro, o caso não foi solucionado.

Tânia Rêgo/ABr
Familiares e moradores da favela da Rocinha, zona sul do Rio, fizeram um protesto por explicações sobre Amarildo
Familiares e moradores da favela da Rocinha, zona sul do Rio, fizeram um protesto por explicações sobre Amarildo

No ato, Elizabeth Gomes da Silva, mulher do pedreiro, negou relação com o tráfico de drogas da comunidade e afirmou que sua casa nunca foi usada por traficantes. A casa da família fica em frente a uma boca de fumo, ainda que a favela esteja pacificada.

Segundo Elizabeth, há uma tentativa da polícia de mudar o foco da questão. "Já que meu marido está morto, só me resta pedir por justiça", disse ela.

O presidente da Anistia Internacional, Átila Roque, afirmou o mais importante nesse momento é cobrar explicações do poder que público diante do fato de o pedreiro ter sido morto "pela polícia ou sob responsabilidade dela". "É preciso que seja dada uma resposta à sociedade para que não paire nenhuma dúvida sobre as circunstâncias da morte do Amarildo".

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, afirmou que é "inaceitável a tentativa de criminalizar a família de Amarildo". De acordo com o parlamentar, aproximadamente 5,5 mil pessoas desaparecem no Estado por ano, dos quais a maioria fica sem resposta.

"É inaceitável essa tentativa da polícia de criminalizar a família, dizendo que ela tinha ligação com o tráfico. O Amarildo foi detido pela UPP e nunca mais voltou", disse.

Além dos familiares e moradores, estiveram presentes no ato o o ex-marido e um primo da juíza Patrícia Accioly, morta por policiais militares no Rio em 2011. Também estiveram no local as atrizes Fernanda Paes Leme e Thaila Ayala e a produtora cultural Paula Lavigne.


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