Folha de S. Paulo


Policial militar infiltrado diz que traficantes mataram Amarildo no Rio

Quatro policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, passaram três meses infiltrados entre os traficantes da favela para preparar a operação de combate ao tráfico que aconteceu um dia antes do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43.

Em depoimento, um deles disse ter recebido um telefonema de um traficante identificado como Catatau que teria lhe contado que "a morte de Boi [apelido de Amarildo] teria acontecido para provocar a população contra o comandante da UPP e enfraquecer o policiamento na Rocinha".

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O depoimento foi prestado quatro dias depois do desaparecimento. O comandante da UPP, major Edson Santos, vem afirmando que Amarildo foi liberado da UPP após não ter sido reconhecido como um dos traficantes procurados.

O policial que prestou depoimento é um de seus subordinados. Na última vez em que foi visto, o ajudante de pedreiro saía da sede da UPP, depois de ter sido levado para lá para averiguações.

A infiltração dos policiais militares no tráfico da Rocinha foi feita apesar da oposição do Ministério Público Estadual, que considerava a iniciativa arriscada.

Mas a chamada "ação controlada" foi autorizada pela Justiça, de acordo com o delegado Ruchester Marreiros. "Tudo o que fizemos foi legal e essa foi uma das medidas", disse Marreiros.

A promotora Marisa Paiva não se pronunciou sobre o assunto, mas em seus pareceres afirma que o Ministério Público é "desfavorável à atuação de policiais militares se fazendo passar por colaboradores de traficantes, recebendo, inclusive, dinheiro dos mesmos para atribuir credibilidade à ação".

A polícia não informou quanto de dinheiro foi apreendido na operação contra o tráfico na Rocinha. O processo corre em segredo de Justiça.

A juíza Daniella Alvarez Prado recebeu a denúncia. Caso aceite os argumentos da promotora, ela pode desconsiderar as provas colhidas pelos PMs infiltrados.

Uma lei aprovada durante o governo Rosinha Garotinho, em 2004, permitiu que policiais militares fizessem investigações. A medida foi mantida pelo governador Sérgio Cabral apesar da Constituição prever essa atribuição à Polícia Civil.


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