Folha de S. Paulo


Por falta de diálogo, movimento de Aids se afasta de comitês do Ministério da Saúde

Criticando falta de diálogo, influência de grupos religiosos na política nacional contra o HIV e censura a campanhas de prevenção, integrantes do movimento de combate à Aids suspenderam a participação em dois colegiados do Ministério da Saúde.

Em junho, mais de dez representantes do movimento deixaram a CNAIDS (Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais), formada em 1986 para assessorar a pasta em questões técnicas.

Há pouco mais de duas semanas, em 19 de julho, representantes do movimento anunciaram a saída temporária da CAMS (Comissão Nacional de Articulação com Movimentos Sociais), criada há oito anos para o debate das políticas públicas entre o movimento social e o departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério.

O enfraquecimento de comissões do Ministério da Saúde com a participação da sociedade civil também virou alvo de reclamação dos médicos, que anunciaram, em julho, que se afastarão de dezenas de colegiados por discordar da forma como as políticas públicas estão sendo construídas.

Representantes do movimento de Aids que integram a CNAIDS e a CAMS reclamam que suas opiniões não são consideradas. E do repetido veto a campanhas de prevenção -como a do carnaval de 2012 para jovens gays e a deste ano para as prostitutas.

A gota d'água, dizem, foi justamente, a decisão do ministro Alexandre Padilha (Saúde) de retirar do ar a peça "Eu sou feliz sendo prostituta" e demitir o então diretor do departamento de Aids.

"As comissões não são deliberativas, e o governo não escuta a sociedade civil", reclama Jair Brandão de Moura Filho, representante da região Nordeste na CNAIDS.

"Queremos trabalhar em conjunto, como sempre foi a resposta da epidemia da Aids no Brasil, junto com o movimento da sociedade civil. A coisa não estava funcionando, foi ação e reação", explica José Hélio Costalunga, representante das pessoas vivendo com HIV/Aids na CAMS.

Eles cobram uma reunião ampla com a presença do ministro Padilha e, até, da presidente Dilma Rousseff, ainda não agendada.

Na internet, circula uma campanha de ativistas da Aids que diz: "Vai pra casa, Padilha!".
Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que a pasta está aberta ao diálogo, e que o o departamento de Aids, sob nova direção, já está iniciando um processo de reaproximação com diversos setores, incluindo o da Aids. E que pretende, até o final do ano, fazer a reaproximação e ouvir de segmentos de fora do governo o que deve ser feito para melhorar as políticas.


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