Folha de S. Paulo


'Entrei, confrontei inimigos, atirei', diz major no júri do Carandiru

O tenente-coronel Salvador Modesto Madia é o último acusado de participar do massacre do Carandiru a prestar depoimento nessa segunda etapa de julgamento. "Houve embates muito violentos dentro do pavilhão. Enfrentamos uma situação muito complicada lá", afirmou ele, que ainda era interrogado às 17h.

"Estávamos numa situação de extrema adrenalina ao invadirmos o pavilhão. Não foi uma operação simples (...) Os presos atiravam das janelas contra a nossa tropa lá embaixo, antes de entrarmos nos corredores", relatou ele. "Eu entrei lá, confrontei com inimigos, atirei e depois entreguei minha arma", completou.

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Após o depoimento de Madia, deverão ocorrer os debates entre acusação e defesa, antes dos jurados decidirem o futuro dos 25 policiais militares acusados de matar 73 dos 111 presos mortos durante o massacre. Os PMs julgados nessa etapa atuaram no segundo andar do presídio.

A primeira fase aconteceu em abril e resultou na condenação de 23 PMs. Apenas três policiais foram absolvidos na ocasião --sendo dois porque não haveria indícios de participação e outro que teria agido em outro andar do presídio.

Os 25 que estão sendo julgados nesta semana eram da Rota. Inicialmente, foi informado que seriam 26 acusados julgados nessa segunda etapa do júri, mas o Tribunal de Justiça corrigiu a informação e afirmou que um acusado morreu antes do julgamento.

INTERROGATÓRIO

Na madrugada desta quinta-feira, ainda durante o terceiro dia de júri, o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos afirmou que "é humanamente impossível matar 73 pessoas em 15 minutos de operação. Não sei por que estamos sendo acusados disso".

"Nosso acesso ao pavilhão estava muito prejudicado. Havia muitas barricadas montadas pelos presos. Gritávamos para que os presos jogassem as armas no chão e entrassem nas celas", disse o tenente-coronel.

Após Carlos Alberto, o júri ouviu o depoimento do tenente Edson Pereira Campos. Em sua fala, o réu relatou detalhes do momento da invasão: "tinha certeza que todos nós morreríamos ali. Eu estava com muito medo".

Campos também afirmou que os policiais foram alvos de disparos. "Meu escudo foi atingido por um projétil, mas o equipamento evitou que os PMs fossem atingidos."


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