Médicos de 21 Estados e do Distrito Federal paralisaram parcialmente as atividades nesta quarta-feira (31), no segundo dia consecutivo de protestos contra as recentes medidas do governo federal ligadas à categoria.
Segundo levantamento da Fenam (Federação Nacional de Médicos), a paralisação atinge profissionais de AC, AM, BA, CE, ES, GO, MA, MT, MS, MG, PB, PR, PE, RJ, RN, RS, RO, SP, SC, SE, TO e o DF.
Médicos fazem passeata em direção à avenida Paulista, em SP
A paralisação ocorre em protesto contra a medida provisória que institui o programa Mais Médicos e os vetos da presidente Dilma Rousseff à lei do Ato Médico.
Consultas e cirurgias eletivas foram canceladas em algumas cidades, de acordo com a Fenam. Atendimentos de urgência e emergência estão mantidos.
No Paraná, dez cidades têm paralisações previstas para esta quarta-feira. Em Curitiba, os principais hospitais públicos da cidade cancelaram cerca de 90% das consultas não emergenciais. No Hospital de Clínicas, apenas 4 dos 27 ambulatórios estão atendendo.
No Hospital Evangélico, aproximadamente 900 consultas devem ser reagendadas. O Hospital Cajuru também cancelou cirurgias eletivas entre ontem e hoje.
A paralisação, porém, não cancelou o atendimento em algumas cidades. Em Recife, Fortaleza e Salvador, ele apenas mudou de lugar: foram realizados mutirões e consultas em locais públicos. Durante os atendimentos, os médicos contavam aos pacientes sobre as condições de atendimentos nas unidades e relatavam problemas supostamente causados pela falta de infraestrutura.
Na capital pernambucana, um mutirão no centro ofereceu consultas de graça para a população em cinco especialidades. Segundo o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, cem profissionais se revezaram durante seis horas numa espécie de hospital de campanha para atender 510 pacientes nas áreas de pediatria, cardiologia, clínica médica, urologia e dermatologia.
O aposentado José Luiz da Silva, 77, saiu de Olinda atrás do tratamento cardiológico que disse não ter conseguido no hospital estadual que é referência na área. "Fui no Procape na quinta-feira (25), esperei o dia todo e não fui atendido. Isso [o sistema público de saúde], para melhorar, precisa muito ainda", afirmou Silva.
A categoria decide hoje em assembleia se a paralisação será mantida ou não. O sindicato não soube informar a adesão ao movimento, mas disse que há grevistas tanto na rede pública quanto na rede privada.
Em Salvador, cerca de 500 profissionais, com o apoio de residentes e estudantes, colocaram 16 estandes no canteiro central de uma avenida e, enquanto atendiam de graça a população, pediam apoio em suas reivindicações e distribuíam panfletos contra o programa Mais Médicos, do governo federal.
"A manifestação deu certo porque Salvador é uma cidade em que menos de 15% das pessoas tem cobertura da atenção básica de saúde, então os estandes ficaram lotados", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia, José Abelardo de Menezes.
Em Fortaleza, o Sindicato dos Médicos do Ceará critica ainda a decisão do governo federal de desistir dos dois anos obrigatórios no SUS, anunciados anteriormente, para estabelecer dois anos de residência médica obrigatória, o que atualmente não ocorre. "Atualmente já faltam supervisores nas residências para orientar os residentes. Imagine se resolvem colocar todos os recém-formados de uma vez só na residência", afirmou José Maria Pontes, presidente do sindicato.
Em Manaus, uma assembleia da categoria na noite desta quarta-feira também deve definir os rumos da paralisação. Hoje, durante quase cinco horas, os médicos conversaram com o governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD).
"Foi muito proveitoso, o governador disse que vai avaliar nossas reivindicações. Mas ainda esperamos por um encontro com o prefeito [Arthur Virgílio Neto (PSDB)]", disse Mário Rubens Vianna, presidente do Simeam (Sindicato dos Médicos do Estado do Amazonas).
Segundo Vianna, a adesão no Estado chegou a 80%, o que representa cerca de 1.600 médicos, e os serviços de urgência e emergência não foram afetados.
REIVINDICAÇÕES
Na semana passada, médicos de 14 Estados também fizeram paralisações contra o programa Mais Médicos e os vetos presidenciais à lei do Ato Médico.
O programa prevê importar profissionais da saúde de outros países e ampliar em dois anos os cursos de medicina. Já os vetos à lei do Ato Médico diminuem a quantidade de ações que devem ser realizadas exclusivamente pela categoria.