Folha de S. Paulo


'Entrada da PM no Carandiru foi necessária', diz Fleury

O ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho e o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco de Campos voltaram a afirmar nesta terça-feira, segundo dia do julgamento do Carandiru, que a entrada da polícia militar no Pavilhão 9 foi legítima e necessária.

O júri, que começou ontem, decidirá o futuro dos policiais acusados pelo maior número de mortes no massacre de 1992: 73 dos 111 detentos.

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"Havia focos de incêndio, estava escuro. Tínhamos a informação de que nove presos já haviam morrido, um receio de fuga em massa, que contaminasse outros pavilhões. Não há dúvida alguma de que a entrada se fazia necessária", afirmou Fleury Filho.

Ele voltou a dizer que a responsabilidade política do episódio foi dele, mas disse que no dia dos fatos não se comunicou com o secretário da Segurança antes de o massacre ocorrer. Ele estava em viagem ao interior de São Paulo.

"Não dei a ordem. Mas se estivesse no gabinete e tivesse todas as informações que tive, teria dado a ordem. A minha polícia não se omitia. No meu governo não havia preso jogando futebol com a cabeça de outro preso enquanto a polícia olhava", afirmou ele.

As afirmações de Campos foram similares. Ele ressaltou que havia a necessidade da entrada da PM pelo "gigantismo da rebelião e pelo perigo de ela se espalhar para outros pavilhões".

O ex-secretário disse que, naquele dia, comunicou-se com o secretário-adjunto de Segurança Pública, Antônio Filardi, e com o comandante do policiamento metropolitano Ubiratan Guimarães, que relataram o que ocorria no presídio.

Ele disse, então, que a PM estava autorizada a entrar, caso eles julgassem que houvesse necessidade. "Não teve alternativa à entrada. Até porque não se conseguiu negociar. Os presos jogavam coisas quando o diretor do presídio pegava no megafone".

A advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza, perguntou a Campos se ele tinha notícia de entrada de armas de fogo em presídios do Estado. Ele disse que sim, mas ao ser questionado pelo Ministério Público, afirmou que durante os dois anos que ficou à frente da secretaria não soube de apreensões de armas no Carandiru.

O promotor Fernando Pereira exibiu a Fleury áudios de entrevista que ele deu logo após o episódio. Um jornalista questionou se governo orientaria mudanças na conduta da PM para debelar futuras rebeliões e evitar um "banho de sangue".

Ele respondeu, na época: "Nós pretendemos que a conduta seja diferente e que se esgote todas as possibilidades de negociação antes da entrada. E que, se entrar, seja evitada qualquer violência desnecessária. Hoje, durante o depoimento, ratificou a resposta dada na época.

Ao final do depoimento, que não durou nem 20 minutos, um jurado perguntou à Fleury se ele considerava que houve excesso da PM ou se a atuação se deu para garantir à ordem. Ele disse que não tinha condições de responder, pois não teve acesso aos autos.

O julgamento, que começou hoje às 10h30, com o depoimento de uma testemunha protegida, foi interrompido para o almoço e será retomado às 14h. Ele prosseguirá com o depoimento de mais uma testemunha protegida.

Editoria de arte/Folhapress

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