Folha de S. Paulo


'Presos não foram para cima dos PMs', diz testemunha do Carandiru

Um dos sobreviventes do massacre que terminou com a morte de 111 presos na penitenciária do Carandiru, em 1992, afirmou que os presos não atacaram ou revidaram a ação dos policiais durante a invasão da prisão que ocorreu após uma rebelião na unidade.

"Em nenhum momento os presos tentaram ir para cima dos policiais, porque os PMs tinham muitas armas de fogo", afirmou o ex-detento Marco Antônio de Moura. O depoimento dele foi dado na primeira parte do julgamento, em abril deste ano, e apresentado em vídeo aos jurados dessa segunda etapa.

'Fomos brutalmente espancados', diz sobrevivente do Carandiru
Perito volta a dizer que não há indícios de confronto no Carandiru
Cena do crime não foi preservada, diz perito do caso Carandiru

"Depois da briga, olhei da janela da minha cela, vi a PM entrando e pensei: vou apanhar demais", afirmou Moura no depoimento. "Morreram uns oito na minha cela. Fingi estar morto para conseguir escapar com vida", completou ele.

Antes da apresentação do vídeo de Moura, foi transmitida a gravação de Antônio Carlos Dias, também sobrevivente do massacre. "Fomos brutalmente espancados. Havia corpos amontoados. Eles nos espetavam com facas e os que caíam eram baleados", afirmou ele.

Depois de Moura, começou exibido o depoimento de Moacir dos Santos, diretor de disciplina da penitenciária. "Quando os PMs entraram, eles começaram a gritar, como se estivessem comemorando um gol (...) Não vi nenhum policial sair machucado. Não havia marcas de tiros nas galerias", disse ele, cujo o vídeo ainda passava por volta das 22h40. A previsão é que termine por volta da 0h.

Nesse segundo bloco de julgamento, estão sendo julgados 26 policiais que teriam agido no segundo andar da penitenciária, onde, segundo a acusação, foram mortos 73 detentos. Na primeira etapa do júri, ocorrida em abril, foram julgados 26 policiais militares, sendo que 23 deles foram condenados a mais de 150 anos de prisão.

Editoria de arte/Folhapress

PERITO

Antes da apresentação dos vídeos, foi ouvido o perito criminal Osvaldo Negrini Neto, que voltou a afirmar que não havia indícios de confronto entre presos e policiais militares no interior do Pavilhão 9.

"Não há nenhuma prova técnica que possa amparar uma visão [de que os presos haviam atirado de dentro das celas para os policiais]. Se fosse assim, as paredes [dos corredores] estariam repletas de tiros e haveria cadáveres de policiais mortos", afirmou.

Ele afirmou ainda que no dia da entrada da PM no Carandiru viu um "mar de sangue". "Voltei com o sapato encharcado de sangue, com a meia molhada. Toda a roupa que usei no dia foi para o lixo", afirmou.

Na terça-feira, segundo dia de julgamento, quatro testemunhas da defesa deverão ser ouvidas. Entre elas, estão o governador de São Paulo na época do massacre, Luiz Antônio Fleury Filho, e o secretário da Segurança Pública dele, Pedro Franco de Campos. Além disso, serão exibidos dois vídeos de gravações feitas durante a primeira etapa do julgamento.


Endereço da página:

Links no texto: