Folha de S. Paulo


Perito volta a dizer que não há indícios de confronto no Carandiru

Durante o primeiro depoimento da segunda fase do júri do massacre do Carandiru, o perito criminal Osvaldo Negrini Neto voltou a afirmar que não havia indícios de confronto entre presos e policiais militares no interior do Pavilhão 9.

"Não há nenhuma prova técnica que possa amparar uma visão [de que os presos haviam atirado de dentro das celas para os policiais]. Se fosse assim, as paredes [dos corredores] estariam repletas de tiros e haveria cadáveres de policiais mortos", afirmou.

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Esta é a segunda etapa do julgamento sobre o massacre que levou à morte de 111 presos após uma rebelião na penitenciária em 1992. Nesse novo júri, estão sendo julgados 26 policiais militares que participaram da ação no segundo andar do pavilhão, onde 73 presos teriam morrido.

Com base em fotos apresentadas pelos promotores Fernando Pereira da Silva e Eduardo Olavo Canto Neto, ele afirmou que dentro das celas dos presos havia vestígios de rajadas de metralhadoras e de sangue, o que indicaria que os presos foram mortos dentro desses locais.

Também foram exibidas fotos que mostravam os corpos dos presos empilhados no primeiro andar da Casa de Detenção. Entre eles, alguns estavam sem roupas.

Em seguida, Canto Neto questionou o perito se, naquela noite, homens nus carregaram corpos de detentos mortos e a resposta foi sim, dando a entender que alguns presos podem ter sido mortos após o término da ação nos andares, quando ajudavam os policiais a carregar os mortos.

Negrini também foi testemunha da acusação na primeira etapa do julgamento, em abril, quando 23 PMs que entraram no primeiro andar do prédio foram condenados a 156 anos de prisão cada. Assim como naquela ocasião, ele voltou a dizer que teve dificuldade de periciar o local logo após o massacre, pois não havia energia elétrica, e que quando voltou ao local, uma semana depois, as celas já haviam sido lavadas.

Ele afirmou ainda que no dia da entrada da PM no Carandiru viu um "mar de sangue". "Voltei com o sapato encharcado de sangue, com a meia molhada. Toda a roupa que usei no dia foi para o lixo", afirmou.

A pedido da defesa dos policiais, o perito explicou como chegou à conclusão de que 73 presos haviam sido mortos naquele pavimento, onde entraram os policiais que começaram a ser julgados hoje.

Ele afirmou que cruzou o número de disparos localizados em cada cela com os nomes dos detentos mortos. Segundo ele, esse era o andar em que "moravavam" os 73 mortos e havia quantidade de vestígios de tiros compatível com essa quantidade de mortos.

A advogada Ieda Ribeiro de Souza questionou, então, se era possível afirmar "com certeza absoluta" que os 73 mortos foram atingidos naquele pavimento. "Não posso afirmar com absoluta certeza", afirmou.

Depois dos questionamentos da advogada, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo voltou a perguntar sobre essa questão. "Eu queria que o senhor explicasse melhor para os jurados quais os critérios usados para chegar à conclusão de que 73 homens morreram nesse pavimento".

Ele disse que chegou à conclusão com base no depoimento de testemunhas (presos, funcionários e policiais civis que participaram da reconstituição do crime) e pelo cruzamento entre o número de disparos efetuados nas celas e a relação de mortos de cada uma delas. "A existência de morador naquela cela que morreu e a existência de tiros no interior dela [demonstram isso]".

O depoimento durou cerca de duas horas. Em seguida, serão exibidos filmes dos depoimentos dados por três testemunhas durante o primeiro julgamento: Antonio Carlos Dias e Marco Antonio de Moura, ex-detentos, e Moacir dos Santos, diretor de disciplina do Carandiru.

Editoria de arte/Folhapress

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