Folha de S. Paulo


Cena do crime não foi preservada, diz perito do caso Carandiru

No primeiro dia de julgamento da segunda fase do episódio conhecido como massacre do Carandiru, o perito criminal Osvaldo Negrini disse que a cena crime foi alterada antes da realização da perícia. Ele é o primeira testemunha de acusação a ser ouvida no júri desta segunda-feira (29).

"As celas foram limpas antes de realizarmos a perícia", afirmou Negrini diante dos jurados. Segundo o perito criminal, não foi possível fazer o trabalho no dia dos fatos por falta de luz e pela total ausência de higiene nas celas do 2º andar do Carandiru, onde foi registrada a maior parte das mortes.

"Quando entrei, os corpos estavam lá. Mas as evidências que eu tenho são os buracos de bala na parede", disse o perito.

Segundo Negrini, embora houvesse vestígio de disparos de metralhadora não foi possível encontrar nenhuma cápsula desse tipo de armamento no local. "Havia poucos disparos no corredor do pavimento. A maioria estava dentro das celas", afirmou.

No total, morreram 111 presos no massacre que aconteceu em 1992. Para facilitar o julgamento, o processo foi desmembrado em quatro júris. Os acusados foram divididos em grupos, de acordo com os andares em que atuaram no dia.

Os que começaram a ser julgados hoje eram do grupo da Rota (tropa de elite da PM) que, segundo a acusação, matou 73 presos no 2º andar do complexo.

Naquele andar, 30 policiais foram acusados, mas três deles já morreram. Um quarto PM também foi retirado do julgamento e só poderá ir a júri quando a Justiça julgar o pedido de alegação de insanidade mental da defesa.

Dos 26 PMs que serão julgados, ao menos nove continuam na ativa, segundo o Ministério Público. Entre os policiais que estarão no banco dos réus está o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que foi comandante da Rota por dez meses, entre os anos de 2011 e 2012.

Sete jurados, todos homens, compõem o conselho de sentença. Todos os jurados sorteados passaram por exame com uma junta médica do Tribunal de Justiça. O procedimento visa atestar que eles têm condições de permanecer no julgamento até o fim.

Segundo o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, o julgamento deve durar até a madrugada de sábado, quando será lida a sentença.

Editoria de arte/Folhapress

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