Folha de S. Paulo


Avenida Paulista amanhece destruída após manifestação violenta

O sentimento das pessoas que passavam pela avenida Paulista na manhã de hoje era de indignação.

Polícia detém 8 após manifestação violenta na avenida Paulista

O coração financeiro de São Paulo foi tomado por pichações e depredações após o protesto de ontem, em apoio as manifestações cariocas contra o governador Sérgio Cabral (PMDB), terminar em vandalismo.

A grande maioria dos bancos amanheceu com vidros estilhaçados, portas quebradas, corrimãos arrancados e muros pichados. Funcionários faziam a limpeza das agências e outras eram interditadas.

Uma cabine da Polícia Militar que foi destruída ao ser usada como escudo durante o protesto ainda aguardava substituição.

"Onde estava a polícia na hora que tudo isso aconteceu?", questiona a moradora Any Gorgom Friedman, 57.

Na esquina da Paulista com a avenida Brigadeiro Luís Antônio, uma agência do Itaú funcionava apesar de ter todas as janelas laterais quebradas.

Uma agência do Santander, na altura do número 447, ficou completamente depredada e não está funcionando. Um homem foi tentar usar o banco, mas deu meia volta e foi embora fazendo gestos de reprovação. Ao lado, uma unidade do Itaú estava aberta, mas tapumes substituíam os vidros externos.

O banco Bradesco, no número 329, também está interditado e tinhas as paredes pichadas. Era possível ler as frases "quero catraca e amor livre" e "[fora] governo maçom".

Uma outra agência do mesmo banco, próxima ao Hospital Santa Catarina, estava fechada e com as laterais completamente pichadas. Palavras de ordem como "violento é o capital" e "fora illuminati" eram removidas.

"Em três meses que eu trabalho aqui foram duas vezes que eu tive que vir para limpar pichação", disse o funcionário da agência José Clóvis Martins Rodrigues, 20.

"Ontem foi pior do que a do Passe Livre. Se você começa a praticar vandalismo você perde seus direitos", declara.

Na mesma altura da avenida Paulista, uma unidade do Itaú apresentava a fachada tomada por cobertura plástica.

Um grupo de amigos que havia acabado de voltar de uma viagem se assustou com o cenário que encontraram e pela dificuldade de encontrar um banco aberto.

Na avenida Bernardino de Campos, continuação da Paulista, uma agência do Banco do Brasil estava cercada por funcionários responsáveis por reparar os danos causados na noite de sexta-feira (27).

DETIDOS

Oito pessoas foram detidas na região central de São Paulo após um protesto em apoio às manifestações cariocas contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) terminar em vandalismo na noite de ontem.

Dos oito detidos, seis já foram liberados pois a polícia não encontrou provas que os ligassem aos atos de depredação na região, segundo a Polícia Militar.

Outros dois foram encaminhados à Polícia Federal pois foram encontrados com oito cartões clonados dentro uma agência da Caixa Econômica Federal.

A Polícia Militar não soube confirmar se os dois detidos faziam parte da manifestação ou se aproveitaram do protesto para usar os cartões clonados.

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PROTESTO

O ato reuniu cerca de 300 pessoas, segundo a PM. A maioria era adepta da estratégia de protesto anticapitalista "black bloc", que prega a destruição do patrimônio privado.

Os manifestantes --muitos mascarados e de preto-- depredaram 13 bancos, a estação Trianon-Masp, uma loja de carros, semáforos e um furgão da TV Record.

A polícia só interveio uma hora depois. "A orientação é não causar confronto", disse à Folha um soldado.

Os manifestantes se concentraram por volta das 18h no vão-livre do Masp. De lá, saíram em marcha no sentido Paraíso, tendo à frente uma faixa com os dizeres "Vaza Cabral".

Um grupo abriu outra faixa que dizia "Fora Alckmin". Foi repreendido por outros participantes, com o argumento de que a pauta do dia era o governador do Rio, mas conseguiu aval para seguir.

Outro grupo puxou gritos de "Alckmin, pode esperar, a tua hora vai chegar".

"O povo do Rio hoje não pode ter voz. Mas quero dizer que essa manifestação é pacifica", disse um rapaz, sendo vaiado e sufocado pelos gritos de "sem pacifismo".

O vandalismo começou assim que o ato deixou o Masp, às 19h. Um grupo arrancou o corrimão de uma agência do Itaú e o usou para destruir a fachada deste e de outros bancos. Em algumas agências foram destruídos computadores, mesas e cadeiras.

Apesar dos gritos de "só banco", eles depredaram equipamentos públicos, como semáforos, relógios e canteiros. Cabines da PM foram arrancadas e usadas como escudos.

A marcha seguiu pela av. 23 de Maio. Manifestantes invadiram um ônibus e o atravessaram no meio da pista Congonhas, bloqueando-a.

A PM só atuou quando a marcha já estava na 23 de Maio, lançando bombas de gás contra o grupo atacou o furgão da Record. A corporação negou que tenha demorado a agir. Disse que chamou reforços quando notou que o protesto deixou de ser pacífico.

Convocado pelo Facebook há uma semana, o ato ocorreu em outras capitais, como Porto Alegre. (ANDRÉ MONTEIRO, GIBA BERGAMIM JR. E RODRIGO LEVINO)


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