Folha de S. Paulo


Cubano apresentado como parente de Fidel Castro é atendido no HC

Um homem cubano foi internado anteontem no setor de urologia do Hospital das Clínicas de São Paulo após tentativas frustradas de diagnóstico de um problema crônico na ilha comunista.

Segundo a Folha apurou, Fidel Castro Puebla foi apresentado por um integrante do governo brasileiro ao HC como sendo parente do ex-líder Fidel Castro.

Sua presença era tratada ontem com sigilo nos corredores do setor de urologia, cujos quartos foram recém-inaugurados com a melhor hotelaria do complexo do HC.

Sem saber que conversava com a reportagem da Folha, um dos acompanhantes do cubano afirmou que o homem fora acomodado na ala infantil da urologia do hospital para "não chamar a atenção", já que "não poderia estar internado no HC".

O acompanhante disse ainda que Castro Puebla sofre, há três anos, de um problema crônico não diagnosticado no sistema de saúde cubano. E que, para ser atendido no sistema público brasileiro, o homem teria alegado ter sofrido mal estar em solo brasileiro.

Pela legislação brasileira, estrangeiros podem ser atendidos em hospitais do SUS em situações de emergência. Pelas vias normais, o paciente só tem acesso ao HC por meio de encaminhamento de outros hospitais da capital, ambulatórios, postos de saúde ou serviços de resgate.

Castro Puebla viajou ao Brasil acompanhado de um parente e, após realizar uma tomografia e uma arteriografia (espécie de radiografia das artérias), faria uma cirurgia urológica na manhã de hoje.

A Folha apurou que ele estava sob os cuidados da equipe do urologista Miguel Srougi, um dos mais renomados cirurgiões da área.

O médico não quis comentar o assunto. O Ministério da Saúde disse desconhecer o caso.

DIRCEU

Procurado por sua reconhecida ligação com a família Casto, o ex-ministro José Dirceu (PT) disse que consultaria a Embaixada de Cuba.

Depois, Dirceu informou que o homem não seria parente nem de Raul nem de Fidel, mas filho de Raul Castro Mercader, um ex-combatente, e Ester Puebla, uma generala. "É uma coincidência de nome", disse. Num terceiro telefonema, disse que o cubano não estava internado.

A Folha viu o prontuário de Fidel Puebla no hospital.

Sua internação no hospital público paulista ocorreu 15 dias após o governo federal brasileiro anunciar que paralisou as negociações com Cuba para a vinda ao país de 6.000 médicos da ilha.

A importação de profissionais cubanos, anunciada em maio pelo Itamaraty, deveria suprir regiões do Brasil em que há falta de médicos.

O governo pretende agora atrair profissionais da saúde da Espanha e de Portugal.

OUTRO LADO

O Itamaraty afirmou não ter recebido nem feito nenhum pedido de internação ao Hospital das Clínicas.

Na Embaixada de Cuba, nenhum funcionário foi localizado na noite de ontem para dar informações.

Procurado na noite de ontem, o Ministério da Saúde disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que desconhece o episódio.

A assessoria do Hospital das Clínicas afirmou que não havia encontrado ninguém na chefia da urologia para comentar as condições em que Fidel Castro Puebla foi internado na unidade.

O urologista Miguel Srougi, chefe do setor, não quis comentar o assunto.


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