Folha de S. Paulo


Policiais civis de SP prometem parar em protesto contra prisão de delegado

Entidades que defendem interesses de delegados da Polícia Civil de São Paulo promoverão nos próximos dias protestos contra a prisão do ex-chefe do Denarc (narcóticos) suspeito de vazar informações internas da corporação.

Em uma das manifestações, policiais civis de todo o Estado planejam não registrar ocorrências entre 10h e 12h da próxima segunda-feira (29). O protesto, organizado pela Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia de SP), vem sendo chamado de "Operação Blackout".

Mudança promovida no Denarc após prisões não vai afetar cúpula
Presos do Denarc depõem e cresce convicção sobre crimes, diz promotor

Divulgação
Delegado Clemente Calvo Castilhone Junior, que era chefe do setor de inteligência do Denarc, e ficou preso dos dias 15 a 18
Delegado Clemente Calvo Castilhone Junior, que era chefe do setor de inteligência do Denarc, e ficou preso dos dias 15 a 18

O delegado Clemente Calvo Castilhone Júnior era chefe do setor de inteligência do Denarc, e ficou preso dos últimos dias 15 a 18.

Três promotores do Gaeco (grupo de promotores que investigam crime organizado) de Campinas acusaram Castilhone Júnior de vazar informações de uma operação policial que visava prender traficantes ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) na região de Campinas (a 93 km de São Paulo).

O Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de SP) prepara para a noite de quarta-feira (24) um ato de desagravo em sua sede, no centro de São Paulo.

A entidade sustenta que o Ministério Público Estadual "expôs de maneira leviana a imagem da Polícia Civil e, principalmente, do delegado de polícia" ao pedir à Justiça as prisões de Castilhone Júnior e de Fábio do Amaral Alcântara, também do Denarc.

A Adepolbr (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil) afirmou, em nota, que "o Ministério Público passou a se valer de suas investigações como elemento de propaganda, objetivando a desmoralização de agentes públicos e instituições".

O promotor José Cláudio Tadeu Baglio, do Gaeco, afirmou no último dia 19 que a prisão de Castilhone Júnior foi "drástica, mas absolutamente necessária" para entender como o vazamento de informações ocorreu, mas reconheceu que o delegado não tinha participação no suposto esquema de corrupção e não vazou de forma proposital qualquer informação.

Nesta terça-feira (23), o delegado Castilhone Júnior foi recebido na reunião do Conselho da Polícia Civil, órgão que reúne todos os diretores da instituição no Estado. Foi a primeira vez na história da polícia paulista em que um delegado que ainda não chegou ao topo da carreira pôde participar do encontro, em que recebeu apoio da cúpula da corporação.

REUNIÕES

De acordo com o Gaeco, o delegado Castilhone Júnior vazou informações apresentadas em duas reuniões do CIISP (Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública de SP), órgão que integra as polícias Federal e Militar e vários setores da Polícia Civil paulista.

Em repúdio à prisão de Castilhone Júnior, outros membros da Polícia Civil que atuam no CIISP, segundo apurou a Folha, cogitam deixar o órgão com receio de que também sejam acusados de vazar informações.

Atualmente, integrantes do CIISP monitoram cerca de 200 telefones celulares de integrantes do PCC. Há também um sistema de escutas ambientais em celas da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), onde está a maior parte dos chefes da facção.

Em depoimento ao Gaeco no último dia 17, o delegado disse que só falou com seu superior no Denarc, Marco Antonio de Paula Santos, e com seus subordinados na inteligência do Denarc para tratar do possível apoio à operação do Gaeco contra os traficantes de Campinas.

Eram os traficantes do bairro São Fernando que, segundo o Gaeco, foram alvos de sequestros e extorsões por parte de alguns investigadores do Denarc.

Entre os extorquidos estavam dois homens acusados de serem da quadrilha de Wanderson Nilton Paula Lima, o Andinho. Ele está preso desde 2002. As interceptações telefônicas do Gaeco flagraram conversas de Andinho com os criminosos que supostamente eram extorquidos pelos policiais.

'PARECE SER'

Além de reclamarem da prisão do delegado Castilhone Júnior, as entidades de classe ainda contestam as informações contra Rodrigo de Longhi Gomes de Mello, um dos policiais civis acusados de participação nas extorsões contra traficantes de Campinas. A pedido do Gaeco, ele foi preso mesmo depois de um acusado de tráfico não tê-lo reconhecido como envolvido no suposto esquema de corrupção.

"O terceiro policial eu não me recordo bem, mas parece ser a pessoa da fotografia abaixo [a do policial Mello]", disse Lucas Escotão, suspeito de integrar o tráfico.

Na tarde desta terça-feira (23), Mello foi submetido a um reconhecimento a uma acareação com os suspeitos de tráfico e não foi reconhecido por nenhum deles.
O Gaeco pediu a prisão temporária de 13 policiais civis. Até hoje, três continuam foragidos.


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