Folha de S. Paulo


Presos do Denarc depõem e cresce convicção sobre crimes, diz promotor

O depoimento dos dois delegados do Denarc (departamento de narcóticos) detidos na segunda-feira (15) aumentou a convicção de promotores do Gaeco (grupo do Ministério Público que investiga crime organizado) de Campinas (a 93 km de São Paulo) de que houve vazamento de informações da investigação sobre um grupo de policiais civis suspeitos de receber uma "mesada" de traficantes da região.

A afirmação foi feita na noite desta quarta-feira (17) pelo promotor de Justiça José Cláudio Tadeu Baglio, que investiga o caso, após dez horas de depoimento na sede do Ministério Público em Campinas.

Segundo Blagio, "informações relevantísimas" foram colhidas com os delegados Clemente Calvo Castilhone Júnior e Fábio Amaral de Alcântara e eles não se recusaram a responder nenhuma das perguntas feitas pelos promotores. "Está firmada mais uma vez a convicção do vazamento, que efetivamente ocorreu, pelo Denarc", disse. "Estamos apurando a forma como isso ocorreu."

O promotor se negou a comentar o teor dos depoimentos.

Clemente Castilhone Junior é chefe do setor de inteligência do Denarc, homem de confiança do diretor do órgão e integrante do grupo de trabalho dos governos estadual e federal para medidas de combate ao crime organizado. Ele e Fábio Alcântara, também delegado do departamento de narcóticos, são suspeitos de vazarem informações sobre a investigação.

João Batista Augusto Filho, advogado de Castilhone, disse no dia da detenção de seu cliente que ele não tem relação com os crimes pelos quais está sendo investigado. A Folha não encontrou o defensor de Alcântara.

Além dos delegados, cinco investigadores da Polícia Civil de São Paulo --dois deles de Campinas-- foram presos na segunda sob suspeita de participação de uma quadrilha que vendia informações para traficantes de drogas ligados à facção criminosa PCC.

Outros seis policiais estavam com mandados de prisão e eram considerados foragidos por não terem sido encontrados anteontem. Dois deles --Gilson Iwamizu dos Santos e Jandre Gomes Lopes de Souza-- se apresentaram voluntariamente hoje na sede da Corregedoria da Polícia Civil na capital após a SSP (Secretaria de Segurança Pública) divulgar o nome e a foto dos seis policiais.

Além de Castilhone e Alcântara, os dois investigadores do 10º DP (Distrito Policial) de Campinas --Mark de Castro Pestana e Renato Peixeiro Pinto-- detidos na segunda foram levados para prestar depoimento aos promotores do Gaeco,mas se recusaram a falar.

Segundo um dos advogados de Pestana e Pinto, Thiago Amaral Lorena de Mello, o acesso às provas que resultaram na detenção de seus clientes foi liberado apenas ontem e a defesa recomendou que os policiais não se pronunciassem porque não houve tempo para analisar o processo.

A INVESTIGAÇÃO

Desencadeada pelo Ministério Público de São Paulo em Campinas e pela Corregedoria da Polícia Civil do Estado, a investigação aponta que policiais envolvidos com o tráfico de drogas receberam até R$ 660 mil por ano para informar criminosos sobre operações e evitar que eles fossem detidos.

Os alvos iniciais eram traficantes ligados a Wanderson Nilton Paula Lima, conhecido como Andinho, que está há 11 anos preso e é considerado um dos chefes do PCC. No decorrer das investigações, os promotores flagraram policiais que atuam ou já atuaram no Denarc tomando dinheiro dos traficantes. Em alguns casos torturavam familiares dos criminosos para obter os recursos.

Em um grampo telefônico, Andinho chegou a reclamar para um bandido que estava cansado de pagar propina para policiais civis. Apesar de estar preso na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, o criminoso tem acesso a telefone celular "o dia inteiro", segundo o promotor de Justiça Amauri Silveira Filho.

PRÓXIMOS PASSOS

Segundo Baglio, o próximo passo da investigação é analisar, caso a caso, a necessidade de manter os policiais e delegados detidos. A prisão dos dois investigadores de Campinas que se recusaram a depor é de cinco dias e a dos policiais e delegados de São Paulo, de trinta.

Outros detidos devem ser ouvidos na segunda-feira (22). Baglio afirmou, no entanto, que o Gaeco tenta antecipar os demais depoimentos para amanhã e sexta.


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