Folha de S. Paulo


Comerciantes da zona leste de SP tentam adiar abertura de nova estação

Comerciantes de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, tentam adiar a inauguração da nova estação de trem do bairro, pois ela não dá acesso à rua Salvador de Medeiros, onde fica o principal centro comercial da região.

A estação atual está defasada, segundo a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). No entanto, ela dá acesso à rua do comércio.

A intenção da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) no começo do ano era inaugurar a estação até o mês passado, mas até agora a obra não foi entregue nem tem nova data prevista de inauguração. O terminal faz parte da linha 12-Safira, que liga o Brás a Calmon Vianna.

Às avessas, o caso lembra o movimento realizado em Higienópolis há três anos, quando moradores daquele bairro se mobilizaram para mudar a localização de uma estação do metrô, com medo de que o lugar passasse a receber grande fluxo de pessoas e, com isso, fosse alvo de "ocorrências indesejadas", como dizia um abaixo-assinado feito por uma associação do bairro.

Após uma audiência com os lojistas realizada na Assembleia Legislativa no mês passado, a CPTM se comprometeu a colocar a estação nova em operação somente após um novo debate com os líderes locais. A previsão era que o encontro fosse realizado ainda em junho, mas acabou sendo marcado apenas para esta terça-feira (16).

A nova parada dos trens, que fica a 300 metros da antiga, foi projetada com dois acessos, um do lado norte e outro ao sul, mas nenhum com ligação direta à rua de comércio, onde também há um terminal de ônibus.

"O comércio pode morrer em seis meses sem a passagem das pessoas por ali", diz Fernando Velucci, 49, superintendente distrital da Associação Comercial de São Paulo. Segundo ele, os cerca de 15 mil passageiros que passam diariamente pela estação representam 35% do faturamento das lojas daquela área.

A expectativa da CPTM era abrir a nova estação apenas com o acesso sul, já pronto, na praça padre Aleixo Monteiro Mafra, e entregar a saída para o lado norte até fevereiro de 2014, pois ainda é preciso retirar sete moradias do local das obras.

Na audiência, a empresa informou que contratou um estudo técnico para avaliar a implantação do terceiro acesso, que ainda precisará ser projetado e licitado, mas os comerciantes querem que a abertura dessa saída ocorra com a inauguração. "Não somos contra a nova estação, mas, em um ano de espera, como vai ficar o comércio? Há risco de desemprego", alerta Ioannis Katsakis, comerciante do bairro.

A CPTM diz que precisa começar a operar a nova estação para cumprir contratos e não vê sentido em deixar parada uma estrutura já pronta. A empresa defende ainda que é comum inaugurar estações com apenas um acesso e entregar os outros nos meses seguintes, como ocorreu em Osasco, na Grande São Paulo. Questionada sobre o atraso, a companhia disse que a construção passa por ajustes finais.

Claudionor Correa, presidente do Conselho Comunitário de Segurança do bairro, avalia que as calçadas no entorno da praça Aleixo Monteiro Mafra não têm condições de receber todos os passageiros da estação, pois são estreitas e há grande volume de tráfego no entorno. "O local, hoje, já fica congestionado no horário de pico. Como ficará se as pessoas passarem a sair e pegar o ônibus ali?", questiona.

Correa faz parte de uma comissão formada por lideranças comunitárias, moradores, lojistas e ambulantes que tentam desde 2009 fazer com que a nova estação tivesse a saída para a área do comércio. Foram realizados vários encontros desde então com representantes da CPTM. Em setembro do ano passado o comerciante Ioannis Katsakis chegou a levar a demanda ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), durante a campanha eleitoral, e no início do ano ao prefeito Fernando Haddad (PT).

No começo de junho, começou a circular o boato de que a estação seria aberta no dia 10. Os membros do grupo então procuraram o deputado estadual Samuel Moreira (PSDB), ex-subprefeito de São Miguel Paulista, que convocou a audiência na Assembleia.

Caso a negociação com a estatal não avance, os líderes planejam entrar com uma ação civil pública contra a abertura, procurar o Ministério Público e realizar protestos na rua.

Editoria de Arte/Folhapress

ESTAÇÃO SATURADA

Para a CPTM, a atual estação, construída nos anos 1980, não comporta mais a quantidade de passageiros em suas plataformas e não possui condições adequadas de acessibilidade. A nova estrutura terá elevadores, escadas rolantes, um mezanino superior e maior área para circulação dos passageiros.

Ainda não se sabe o que será feito no local da antiga estação. Entre as opções em debate, estão uma parada de ônibus, um shopping e um poupatempo.

O bairro possui uma estação ferroviária desde 1926. Ao redor dela, o comércio do bairro se estruturou e hoje conta com cerca de 200 estabelecimentos que vendem roupas, calçados, brinquedos, alimentos e outros itens. Há ainda mais de 150 ambulantes que atuam nas ruas.

"Pego o trem aqui há vários anos e já está na hora de termos uma nova estação. Um detalhe aqui e outro ali se resolve depois com calma", avalia o auxiliar de limpeza Miguel Santos Dias, 34.

Para a costureira Rita de Cássia, 51, é melhor inaugurar depois de tudo pronto. "Se esperamos até agora podemos esperar mais um pouquinho. Se inaugurar inacabada nada será terminado depois", acredita.


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