Folha de S. Paulo


Multinacionais acusadas de formação cartel dizem colaborar com investigação

Acusadas de formação de cartel pela Siemens, empresas de equipamento ferroviário ouvidas pela Folha admitiram ser alvo da investigação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e informaram que estão colaborando com o governo brasileiro.

Questionada sobre sua motivação para a assinatura de um acordo de leniência e sua participação em cartel, a Siemens afirmou, em nota, que "desde 2007, a empresa tem feito grandes esforços para desenvolver um novo e eficaz sistema de 'compliance' (cumprimento de normas) e ética nos negócios".

Empresa alemã Siemens delata cartel em licitações do metrô de SP

Ainda segundo a empresa, seu código de conduta "enfatiza a importância de uma concorrência leal e obriga todos os funcionários a cumprir com os regulamentos antitruste. A empresa sempre coopera integralmente com as autoridades".

A Alstom disse que "está colaborando com as autoridades" após receber um "pedido do Cade para apresentar documentos relacionados a um procedimento administrativo referente à lei concorrencial".

A Mitsui disse que tem "diligentemente cooperado com as investigações", mas não comenta o caso em andamento.

A Serveng afirmou que não tem conhecimento aprofundado da investigação para se manifestar. As demais empresas não se manifestaram.

INVESTIGAÇÃO

Pelo menos seis concorrências estão na mira das autoridades. Em São Paulo, são as da linha 5-lilás (fase 1) do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e a extensão da linha 2-verde do metrô. A manutenção e contratação de trens e o projeto Boa Viagem, todas da CPTM, completam a lista.

No Distrito Federal, a apuração é sobre o contrato de manutenção do metrô.

A implantação dos sistema da linha 5-lilás (na época chamada de linha G da CPTM) foi vencida pela Siemens no final dos anos 1990. Até àquela época, o mercado brasileiro era dominado pela Alstom.

Outra concorrência em SP investigada é a da venda de dez trens para a CPTM em 2000. Os trens foram feitos em parceria com a japonesa Mitsui.

No início do mês, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que o governo dará todas as informações e fará investigação própria.

No metrô do DF, a licitação para a manutenção de trens ocorreu em 2005, e o contrato foi assinado em 2007. Siemens e Alstom fizeram um acordo para dividir o serviço, no valor de R$ 96 milhões ao ano.

TREM-BALA

As cinco empresas estrangeiras investigadas integram o grupo que domina a tecnologia de trens de alta velocidade. Todas elas declararam-se, em algum momento, interessadas em participar do processo no Brasil que vai escolher quem fornecerá os equipamentos do trem-bala.

Além delas, não mais que outras cinco companhias no mundo poderiam vender trens de alta velocidade para o país. Dessas, só a sul-coreana Rotem demonstrou interesse.

A venda de equipamentos metroferroviários é um mercado de mais de R$ 4 bilhões ao ano no Brasil. A maior parte dos clientes é estatal.

A CAF tem a maior fatia do mercado. Desde 2008, ela vence os mais volumosos contratos do maior comprador do país, o governo de São Paulo.


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