Folha de S. Paulo


Em 'assembleia', 'black blocs' discutem como escapar da polícia

Com bandeiras pretas nas mãos, um grupo discutia estratégias para escapar do monitoramento de policiais e imprensa. Em sua maioria, eram jovens que vestiam roupas pretas, característica dos adeptos do movimento anticapitalista "black bloc", que tem como estratégia a depredação de bens privados.

A assembleia foi improvisada após protesto "pela democratização dos meios de comunicação", que foi até a sede da TV Globo, zona sul de São Paulo, anteontem.

Antes, eles picharam muros da emissora e tentaram depredar um ponto de ônibus e uma agência bancária, alvo preferencial dos atos do grupo.

Os "blocs" surgiram na Europa, apoiando movimentos sociais em protestos. No Brasil, começaram a aparecer durante os atos do Movimento Passe Livre, em junho.

Segundo seus criadores, trata-se de uma forma de protestar --com a depredação de patrimônio privado--, e não um grupo.

Na reunião, acompanhada pela Folha, não havia líderes. Quem queria falar levantava o braço e aguardava sua vez. Quem concordava, sacudia as mãos de forma semelhante a palmas em libras, a língua brasileira de sinais.

O grupo discutia sua participação em protestos futuros e a melhor forma de comunicação entre os membros. Um deles, que dizia ser moderador da página "Black Bloc SP" no Facebook, reclamava que frequentemente tinha o acesso bloqueado.

A avaliação entre todos é que a página, por ser aberta, é monitorada "pelos P2" (policiais disfarçados).

Uma garota sugeriu, então, que todos passassem a usar a rede social N-1 (alternativa ao Facebook) e que fosse criado um código de acesso.

Outro rapaz defendeu que fosse criada uma página hospedada em servidores na Rússia ou em Taiwan, "impossíveis de derrubar". "A tecnologia evolui muito e na internet sempre vai ser uma disputa de gato e rato", afirmou.

O assunto mudou quando outro jovem pediu para que adeptos participassem de seu programa na internet para falar da filosofia do grupo anarquista. Ele carregava uma bandeira preta e vermelha, que disse ter sido usada pelo avô anarquista na Guerra Civil Espanhola (1936-39).

Sem resposta, o jovem agradeceu e se despediu em francês: "Liberté, égalité, fraternité pour tout le monde" --liberdade, igualdade e fraternidade (um dos lemas da Revolução Francesa, 1789) para todo o mundo.

'BLOCS CARIOCAS'

No Rio, quase uma hora depois de iniciada a passeata das centrais sindicais pelo Dia Nacional de Luta, surgiram jovens que tiraram camisetas, máscaras, casacos e bandeiras pretas de mochilas. Nas mãos, pedras e coquetéis molotov.

De repente, uma grande massa se formou e entrou na passeata: eram os "black blocs" cariocas. A presença de partidários do movimento era esperada, tanto que as centrais contrataram seguranças com a incumbência de mantê-los afastados da manifestação.

Grupos de anarcopunks, alguns deles estudantes de universidades como USP, PUC e Mackenzie, estão entre os que agem como "black blocs" em São Paulo, conforme apuração da Delegacia de Crimes de Intolerância (Decradi).

Segundo um investigador, que pediu anonimato, os grupos em atuação no país são diferentes dos europeus, que, em alguns casos, têm líderes.

Ele diz que o movimento de hoje tem entre seus adeptos universitários, de classe média, diferentes do MAP (Movimento Anarcopunk), nascido no Reino Unido dos anos 1970. (ANDRÉ MONTEIRO, FLÁVIO FERREIRA, GIBA BERGAMIM JR. E MARCO ANTÔNIO MARTINS)


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