Folha de S. Paulo


Ex-alunos do colégio Equipe formam linha de frente do Passe Livre em SP

Após pegar metrô e ônibus com livros infantis na mochila, o jovem chegava na Vila Curuçá, extremo leste de São Paulo, para contar histórias para um grupo de crianças.

Atuar como mediador de leitura fazia parte da rotina de Lucas Monteiro, então estudante do colégio Equipe, instituição privada da zona oeste onde a mensalidade chega a R$ 1.700.

"Eles não fazem política de gabinete", diz pai de organizador do Passe Livre

Aos 29, Lucas, conhecido como Legume, é hoje um dos organizadores do Movimento Passe Livre (MPL) que, ao sair às ruas contra o aumento da passagem de ônibus e trens em São Paulo, deu início à série de protestos que se espalhou pelo país.

Além da redução da tarifa de ônibus em várias cidades, conseguiu não só que a presidente Dilma Rousseff (PT) os recebesse como também que anunciasse um pacote de medidas indo desde a mobilidade urbana até a discussão da reforma política no país.

Nina Cappello, 23, e o estudante de filosofia Marcelo Hotimsky, 19, assim como Lucas, atuam na linha de frente do movimento. Os três estudaram no Equipe, em períodos diferentes, mas foi no MPL que se conheceram.

Hotimsky, que participou da reunião com a presidente Dilma, migrou, após o ensino fundamental, para o Santa Cruz, em Alto de Pinheiros (zona oeste), onde seu pai, que é educador e psicanalista, trabalhava.

Aluno de notas altas e discurso contundente, mas que ficava impaciente ao expor suas ideias --assim era Lucas em seus primeiros anos na escola, segundo professores.

Já Nina, além da leitura de livros a jovens carentes, foi responsável por tocar um cineclube no colégio. "Ela era mais discreta, mas atenta, com ideias claras e a mesma preocupação social", diz o professor Antonio Carlos de Carvalho, 51, do Equipe.

Assim como os demais integrantes do movimento, Lucas não fala da vida pessoal. Mas o pai dele, Pedro Luís, 52, conta que o filho morou com a mãe até se casar e que, "desde muito pequeno, de quatro para cinco anos, sempre teve espírito crítico".

"Ele ganhou um gosto pelo pensamento político e social. Acho que ele tem isso dos dois lados da família, por parte da mãe [que é professora], dos tios, avós, sempre muito politizados, ligados aos pensamentos de esquerda", disse Pedro, cantor e compositor do grupo Monobloco e fundador da banda Pedro Luís e a Parede.

Professor de história em uma escola particular no Paraíso, Lucas diz que nenhum de seus alunos participou de manifestação. "Eles ainda são muito pequenos. Mas fiquei feliz que os pais me mandaram e-mails parabenizando pelos protestos", afirmou.


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