Folha de S. Paulo


Capa de jornal turco associa protestos brasileiros com os da Turquia

A edição de sábado (22) do jornal turco Takvim afirmou que a onda de protestos que se espalharam em diversas capitais do Brasil é muito semelhante com as manifestações que ocorrem na Turquia, onde o povo protesta contra o governo.

Com o título "Copy Paste" (copia e cola), o jornal traz imagens semelhantes de um manifestante brasileiro e outro turco usando máscaras dos quadrinhos "V de Vingança", criados nos anos 1980.

Mais abaixo, o jornal reproduziu duas fotos parecidas: uma brasileira aparece recebendo spray de pimenta contra o rosto durante protestos no Brasil e outra de uma manifestante turca passando pela mesma situação. As fotos foram colocadas em paralelo.

Em discurso para milhares de simpatizantes em Samsun, cidade na costa do Mar Negro, no sábado (22), o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que o Brasil é alvo das mesmas conspirações que, segundo ele, tentam desestabilizar seu país.

"O mesmo jogo está sendo jogado agora no Brasil. Os símbolos são os mesmos, os cartazes são os mesmos, Twitter e Facebook são os mesmos, a mídia internacional é a mesma. Eles (os manifestantes) são liderados a partir do mesmo centro", disse Erdogan.

"Eles estão se saindo melhor em alcançar no Brasil o que não puderam alcançar na Turquia. É o mesmo jogo, a mesma armadilha, o mesmo objetivo", prosseguiu.

"Quem ganhou com estas três semanas de protestos? O lobby da taxa de juros, os inimigos da Turquia", afirmou Erdogan, de um palco enfeitado com seu retrato e com um slogan que apelava aos seus apoiadores para "frustrarem o grande jogo" contra a Turquia.

"Quem perdeu? A economia da Turquia, mesmo que em pequena escala, e o turismo. Eles ofuscaram e mancharam a imagem e o poder internacional da Turquia", disse.

Também no sábado, cerca de 10 mil pessoas se reuniram na praça Taksim, em Istambul. Muitas delas para participar de uma cerimônia para depositar cravos no local em memória das quatro pessoas -- um deles era policial-- que foram mortas nas manifestações.

No protesto houve novo confronto entre manifestantes e a polícia na praça Taksim, em Istambul. No discurso aos partidários, Erdogan defendeu a polícia de choque que disparou canhões d'água contra multidões.

Reprodução
Capa de jornal turco Takvim associa protestos que se espalharam no Brasil com as manifestações da Turquia
Capa de jornal turco Takvim associa protestos que se espalharam no Brasil com as manifestações da Turquia

PROTESTOS NA TURQUIA

As manifestações, que ocorrem desde 31 de maio, se espalharam por todo o país e estão voltadas, principalmente, contra Erdogan, que é acusado de autoritarismo e de querer islamizar a sociedade turca.

Nos últimos atos, os manifestantes jogaram cravos vermelhos na escadaria que leva ao parque Gezi, símbolo dos protestos, em homenagem às vítimas mortas, feridas e detidas na repressão policial.

Ao menos quatro pessoas morreram e mais de 7.800 ficaram feridas, segundo a União de Médicos da Turquia desde o início do movimento.

Cerca de cinquenta suspeitos, ligados segundo as autoridades a uma organização de extrema-esquerda clandestina, foram acusados de pertencerem a uma organização terrorista e foram colocados sob prisão preventiva.

O movimento de contestação nasceu no parque Gezi, quando a polícia reprimiu violentamente centenas de ecologistas que se opunham ao corte das árvores do parque.


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