Folha de S. Paulo


Salvador tem jovem baleado, ônibus incendiados, saques e 20 mil nas ruas

A quinta-feira (20) de protestos na capital baiana começou com 20 mil pessoas reunidas em paz até que alguns manifestantes tentaram furar o cordão de isolamento ao redor do estádio da Fonte Nova, segundo a polícia, e os confrontos começaram.

Foram atiradas balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo pela tropa de choque da PM baiana, que contou com apoio da Força Nacional de Segurança.

Veja o mapa dos protestos que acontecem pelo país
Dilma Rousseff convoca reunião de emergência para amanhã

O movimento, que entre outras bandeiras criticava a Fifa e a organização da Copa de 2014 no Brasil, buscava se aproximar da arena no dia da primeira partida no local pela Copa das Confederações.

A Polícia Militar disse que as armas foram utilizadas para "garantir a proteção das pessoas e do patrimônio público e privado".

A partir daí, o cenário foi de confronto em diversos pontos da cidade. Dois ônibus foram incendiados na avenida Centenário, próximo ao Instituto Médico Legal, e outros acabaram depredados, assim como pontos de ônibus nas ruas.

Agências do Banco do Brasil e do Bradesco tiveram os vidros quebrados no centro. Uma loja na avenida Sete de Setembro, principal via comercial da cidade, foi arrombada e saqueada. Um segundo estabelecimento, perto dali, teve a vidraça destruída, mas ninguém levou nada.

Dois micro-ônibus da Fifa receberam pedradas.

Um estudante levou um tiro no braço, no bairro do Garcia, e está internado no Hospital Geral do Estado. Leandro Fraga Magalhães, 24, não participava do protesto e tentava fechar o portão do bar da namorada, que estava sendo invadido por manifestantes que fugiam da polícia, quando foi alvejado.

No final da noite, um grupo tentou chegar à residência oficial do governador Jaques Wagner (PT), o chamado Palácio de Ondina, e foi recebido com bombas de gás lacrimogêneo.

Wagner convocou entrevista à imprensa para esta sexta (21), quando era esperada uma visita da presidente Dilma Rousseff a Salvador, para falar sobre o assunto. O evento com Dilma foi cancelado em meio ao acirramento dos confrontos pelo país.

Outra parte da mobilização se dirigiu à prefeitura, mas não houve conflitos. O prefeito ACM Neto (DEM) disse que "a maioria saiu às ruas de forma ordeira". "O lamentável é a ação dos radicais", afirmou.

Para sábado (22), dia de Brasil e Itália na Fonte Nova, pela Copa das Confederações, está marcado um novo protesto na capital.

O último reajuste da tarifa do transporte público da cidade foi há um ano, de R$ 2,50 para R$ 2,80, e o prefeito não fala em um novo aumento.

Não foram vistas bandeiras de partidos políticos na manifestação. Outras reivindicações, como a inauguração do metrô da cidade, há 13 anos sem funcionar, além de melhorias na educação e na saúde, também foram lembradas em cartazes e gritos.

PELO PAÍS

As manifestações realizadas nesta quinta-feira levaram quase 1 milhão de pessoas às ruas. Apenas as capitais, acumularam 939.500 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar de cada um dos Estados. O Rio de Janeiro foi a capital com maior número de pessoas, 300.000.

Os protestos contra o aumento das tarifas do transporte público começaram no início do mês e foram ganhando força em todo o país, sendo registrados vários casos de confrontos e vandalismo. Com isso, 14 capitais e diversas outras cidades anunciaram entre ontem e hoje a redução das passagens.

Nessa quinta-feira, foram registrados confrontos em 12 capitais. Um dos casos mais violento ocorreu em Brasília, onde manifestantes quebraram o cerco da polícia e destruíram vidraças do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.

No Rio, policiais disparam tiros de balas de borracha e jogaram bombas de gás lacrimogêneo para dispensar os manifestantes. Ao menos 22 pessoas feridas foram encaminhadas ao hospital municipal Souza Aguiar, no centro do Rio, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Houve ainda registro de saques.

Na capital paulista, o confronto aconteceu entre manifestantes ligados a partidos e outros que eram contra o envolvimento dos partidos políticos no ato. Houve agressão e bandeiras de partidos foram queimadas na avenida Paulista. Não há registro de pessoas detidas.

Após as manifestação, a presidente Dilma Rousseff (PT) decidiu convocar uma reunião de emergência para as 9h30 de amanhã com seus principais ministros para discutir os efeitos das manifestações por todo o Brasil.

Na reunião, Dilma irá avaliar relatos da extensão dos atos nas cidades brasileiras. A partir daí será decidida uma conduta de governo, como por exemplo medidas ao alcance do Ministério da Justiça ou até um pronunciamento oficial da presidente.


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