Folha de S. Paulo


Manifestantes apedrejam catedral de Brasília e picham ministérios

Depois de tentarem invadir o Itamaraty, manifestantes promovem um rastro de depredação na Esplanada dos Ministérios nesta quinta-feira (20). Nem mesmo a Catedral de Brasília, um dos principais cartões postais da capital federal reformada recentemente, foi poupada dos ataques.

Manifestantes jogaram pedras na Catedral trincando uma dos vitrais coloridos, picharam ministérios e placas, atearam fogo em diferentes pontos do gramado central e quebram vidros do Banco Central e do Itamaraty. Também enfrentaram a Polícia Militar com rojões.

Os policiais reagiram com spray de pimenta, balas de borracha e bombas de gás.

Em Brasília cerca de 40 pessoas foram atendidas pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) entre manifestantes e policiais. Onze pessoas foram levadas para diferentes hospitais. Três estão em estado grave.

A Secretaria de Saúde do DF, em coletiva de imprensa, informou que um homem morreu. Ele caiu de um viaduto próximo à rodoviária central de Brasília. O homem exalava álcool, mas ele não estava na manifestação, segundo o secretário-adjunto de Saúde do DF, Elias Fernando.

Manifestantes também atiraram pedras contra carros da polícia, que passaram em alta velocidade no meio dos manifestantes. Um desses manifestantes, segundo a PM, foi detido.

No Ministério da Saúde, picharam "Que Saúde?". Sobre a placa que dizia "Congresso Nacional", prevaleceu os dizeres "corruptos e ladrões". Na porta de entrada da catedral, picharam "666, the number of the beast (666, o número da besta)".

CONFRONTO

Depois de duas horas de manifestação sem conflitos em Brasília, um grupo de manifestantes forçou a barreira policial montada na entrada do Congresso Nacional, iniciando um confronto com a Polícia Militar, que mantém posição para impedir o avanço do grupo.

Policiais militares que protegem o Congresso Nacional, em Brasília, arremessaram pelo menos dez bombas de gás lacrimogêneo no meio da multidão de 30 mil pessoas que participava do protesto em frente ao Legislativo. As bombas foram lançadas contra o grupo de manifestantes que agia pacificamente.

Pouco antes, um grupo mais radical lançava bombas contra os policiais. Essas bombas não provocaram ferimentos, já que elas se limitam a fazer um forte estrondo.

Com a ação da PM, a multidão se dispersou e agora começa a se concentrar em outros dois prédios públicos. Um grupo já tomou controle da ponte que liga a pista da Esplanada ao Palácio do Itamaraty. Um pequeno cordão policial tenta impedir a entrada dos manifestantes no palácio, que é a sede do Ministério das Relações Exteriores.

Do outro lado da Esplanada, um grupo se concentra em frente ao Ministério da Justiça. No gramado do Congresso, há pelo menos quatro focos de fogo, provocado por fogueiras improvisadas pelos manifestantes com a queima de cartazes.

O clima geral entre os manifestantes é de raiva contra a ação da polícia. Antes do lançamento das bombas de gás, a maioria dos manifestantes vaiava a ação dos radicais. Um grupo chegou a se sentar no chão, em protesto contra os que provocavam os policiais.

Um manifestante foi encontrado já nas dependências da Câmara. Ele está sendo assistido por quatro defensores públicos. Ele deverá prestar depoimento e será liberado.

SEM IDENTIFICAÇÃO

Parte dos policiais militares que acompanham a passeata dos manifestantes na tarde desta quinta-feira (20) está sem identificação com nome e patente no colete. A PM estima que 20 mil pessoas protestam na capital federal.

Questionado pela Folha, sargento diz que não está identificado "porque não quer".

Os manifestantes atiraram, no início da noite, duas bombas nos policiais que reagiram com spray de pimenta.

Além da tropa que faz uma espécie de cordão de isolamento na Esplanada dos Ministérios, a cavalaria e o Batalhão de Operações com cães tentam impedir a entrada dos manifestantes no Congresso.

A ordem é bloquear todos os acessos, inclusive os que levam às cúpulas da Câmara e do Senado. O coronel Jahir Lobo, chefe de Operações da PM, diz que pode empregar até 3.500 homens na operação.

Para forçar os manifestantes a seguirem para o gramado do Congresso, evitando aproximação da marquise, policiais montam uma barreira humana na diagonal.

A segurança aumenta a medida que os manifestantes se aproximam do Congresso.

No gramado, onde já estão os manifestantes da linha de frente, um cordão de policiais militares busca impedir que o grupo chegue ao segundo espelho d'água.

Desafiando a resistência de partidos políticos, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) estão no gramado, acompanhados de quatro índios.

PAUTA

A pauta de protesto em Brasília é bastante variada. Muitas pessoas marcham com cartazes bem-humorados em punho. "Na Arábia Saudita, ladrão é decepado. No Brasil, é deputado", diz cartaz de manifestante.

Um dos posters mais originais faz referência à geração Coca-Cola: uma garrafa do refrigerante derrama manifestantes em frente ao Congresso. "A gente luta pelo que não tem. Minha mãe precisa de atendimento hospitalar público e não temos. Estou aqui por isso", diz o criador do cartaz, Hudson Limiro, 22.


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