Folha de S. Paulo


Protesto em Natal termina com confronto em frente à sede do governo

O protesto que levou 15 mil pessoas às ruas de Natal (RN) nesta quinta-feira (20) começou de forma pacífica e terminou em meio a momentos de tensão e confronto na sede do governo.

Após três horas de passeata, quando muitos já se dispersavam, cerca de 400 pessoas seguiram até a região do Centro Administrativo do Estado, que reúne os principais órgãos públicos, e se concentraram em frente à Governadoria por volta das 21h.

Um grupo ainda menor, de rostos tapados, encabeçou o tumulto. Queimaram objetos, formando uma fogueira na frente da rampa de acesso ao imóvel. Arrancaram placas de sinalização --algumas foram parar na fogueira.

O conflito se acirrou quando o grupo atirou pedras e bombas contra os policiais. A polícia revidou com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

Os que enfrentavam a polícia atiraram pedras nas janelas laterais de vidro da Governadoria. Derrubaram cercas, usaram coquetel molotov para incendiar uma guarita e tentaram invadir com chutes e pedras a administração da guarda privada do local.

Três policiais ficaram encurralados, mas a polícia acabou repelindo os agressores. Os últimos se dispersaram por volta das 22h. Houve prisões e não havia registro de feridos até a publicação desta reportagem.

BOLAS DE SINUCA COM PÓLVORA

Policiais que estavam no local recolheram bombas caseiras --bolas de sinuca com pólvora no interior-- canivetes e pedras, entre outros objetos que o grupo, segundo a polícia, deixou pelo caminho.

Estações de transferência de ônibus nas proximidades tiveram os vidros quebrados e receberam pichações.

O coronel Sérgio Guimarães, coordenador de segurança do gabinete civil do Estado, disse que os policiais resistiram sem revidar quando foi possível.

"A manifestação estava pacífica. O grupo que agiu com violência é uma minoria, uma gangue que estava infiltrada", disse ele.

De acordo com o coronel, 50 policiais, a maioria da tropa de choque, faziam a segurança no centro administrativo. Parte deles formou um cordão de isolamento na porta da Governadoria durante e após o conflito.

Com o acirramento dos ânimos, outros carros de polícia chegaram para dar reforço.

Atingidos por pedras, bombas e outros objetos, os policiais atiraram com balas de borracha e usaram gás. O grupo de manifestantes foi forçado a recuar até a avenida Senador Salgado Filho, na BR-101, ponto onde começou o protesto.

A comerciária Bianca Medeiros, 18, que segurava um cartaz estampando "Violência não", disse que a situação ficou incontrolável.

"Depredar, queimar, xingar, nada disso faz sentido, mas eles fizeram", disse, com a voz embargada.

"O movimento estava bonito até chegar aqui", acrescentou o auxiliar administrativo Everton Felix, 22, que também estava na Governadoria e reprovou os atos de vandalismo.

A polícia, segundo ele, só atacou quando foi atacada e agiu de acordo com o que a situação exigia.

No caminho até a Governadoria, um pequeno grupo também arrancou parte dos tapumes que cercam a obra da arena das Dunas, estádio da Copa-2014.

A cerca de dois quilômetros dessa área, foram registrados outros atos de vandalismo. Um grupo atirou pedras e bombas nas portas de entrada do Midway Mall, o maior shopping de Natal. As portas, de vidro, foram quebradas e parte do muro do shopping foi pichado. Não houve invasão nem saques.

Renata Moura/Folhapress
Vidraça de shopping e pichação feita por grupo isolado nas imediações de manifestação em Natal (RN)
Vidraça de shopping e pichação feita por grupo isolado nas imediações de manifestação em Natal (RN)

ATAQUE A CARRO DE TV

Lojas e agências bancárias nas imediações também foram depredadas. Um carro da TV Bandeirantes, que estava desocupado, foi virado e pichado.

Ninguém ficou ferido, mas segundo o repórter da Band, Muriú Mesquita, cartões de memória, baterias e outros objetos que estavam no interior do veículo foram roubados.

Todos os atos de vandalismo foram registrados em áreas adjacentes à manifestação, segundo o comandante geral da Polícia Militar no Rio Grande do Norte, coronel Francisco Araújo.

De acordo com ele, 300 policiais estavam posicionados nas áreas adjacentes à manifestação. O número é o dobro do que normalmente atua na zona sul da cidade, onde ocorria o protesto.
Para o secretário de Segurança do Estado, Aldair Rocha, o policiamento era suficiente. Nesta sexta-feira (21), a secretaria deverá apresentar um balanço dos prejuízos e da ação da polícia.

Foi o maior protesto de rua registrado nos últimos anos em Natal, segundo a PM. Desde o ano passado, a cidade já foi cenário de ao menos cinco manifestações. Em 2012, protestos contra o reajuste de preços dos combustíveis forçaram a redução do valor nas bombas. O valor da tarifa de ônibus também caiu, após manifestações.

Entre as bandeiras levantadas nesta quinta-feira (20) havia posicionamentos contra a PEC 37 e por melhorias em áreas como educação e saúde. Houve críticas aos gastos públicos para a realização de eventos como a Copa.

Renata Moura/Folhapress
Carro de reportagem da Band virado --e com pichações pró e contra o vandalismo-- durante dia de protestos em Natal (RN)
Carro de reportagem da Band virado --e com pichações pró e contra o vandalismo-- durante dia de protestos em Natal (RN)

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