Folha de S. Paulo


Haddad diz que reduzir tarifa agora seria medida populista

Em entrevista coletiva realizada na manhã desta quarta-feira, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que reduzir a tarifa de ônibus seria uma medida populista e que a decisão implicaria retirar dinheiro de outras áreas do Orçamento.

"A coisa mais fácil do mundo é agradar no curto prazo, tomar uma decisão de caráter populista sem explicar para a sociedade as implicações da decisão", disse. "Essas escolhas não são simples porque trazem impacto. Existem demandas de creches, de hospitais, demandas as mais variadas na cidade de São Paulo."

Enquete: O movimento Passe Livre vai conseguir reduzir o preço das tarifas?

Haddad apontou como única possibilidade para a redução da tarifa a aprovação de um projeto de lei em discussão na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O projeto prevê a isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre diesel e pneu, entre outros insumos, para empresas de transporte coletivo.

"Estamos colocando R$ 600 milhões a mais na conta do subsídio para manter a tarifa nesse patamar, qualquer mudança disso implicará prejuízo para outras áreas. Não temos três alternativas, só temos duas: ou cortar de outras áreas ou avançar na política de desoneração", disse.

Com a desoneração, disse o prefeito, seria possível abaixar a tarifa em cerca de 7%. O aumento de R$ 3 para R$ 3,20, em vigor desde 1º de junho, foi de 6,67%.

O subsídio é pago às empresas de ônibus porque o sistema de transporte municipal não arrecada o suficiente para fechar as contas. Pelos cálculos da prefeitura, neste ano o subsídio chegará ao valor recorde de R$ 1,25 bilhão. Caso o aumento seja revogado e a tarifa congelada até o fim da gestão, em 2016 o subsídio chegará a R$ 2,7 bilhões.

O Orçamento da prefeitura para 2013 é de R$ 42 bilhões.

CONVERSA

Haddad disse que conversou sobre o projeto de desoneração com a presidente Dilma Rousseff ontem, no aeroporto de Congonhas, mas negou que o encontro tenha sido emergencial, pois estava previsto antes da série de protestos. Ele disse ainda que telefonou ao ministro Guido Mantega (Fazenda).

Além do projeto, ele disse que tratou de recursos federais para a construção de corredores de ônibus no âmbito do PAC Mobilidade.

"Se eu tenho corredor de ônibus, diminuo os custos de transporte na cidade e melhoro a qualidade porque vou gastar menos combustível, o mesmo motorista e cobrador vão poder transportar mais pessoas por hora de trabalho."

O prefeito criticou as gestões passadas de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD) por não terem construído corredores. "Se a prefeitura tivesse construído os corredores que prometeu, a velocidade do ônibus não seria a que é hoje."

Ele também disse que não irá usar a verba destinada à implantação do Bilhete Único Mensal para financiar uma redução da tarifa. O projeto, que permite viagens ilimitadas de ônibus por 30 dias e deve começar em novembro, tem impacto estimado em R$ 400 milhões no subsídio da prefeitura.

"Imaginar que nós podemos abrir mão de uma proposta que nós fizemos e com a qual nos comprometemos para usar o recurso em outra direção é criar uma contradição, que na minha opinião não deveria ocorrer, entre a rua e a urna."

VANDALISMO

Sobre os episódios de violência ocorridos ontem, durante o sexto protesto contra o aumento da passagem de ônibus, o prefeito disse que existem grupos no movimento que querem interditar o diálogo.

"Infelizmente o debate tem sido interditado por grupos que não confiam na democracia. São criminosos os que estão agindo nas ruas", criticou.

"Gestos como o de ontem não contribuem para o funcionamento da cidade. Independente da manifestação, as pessoas têm o direito de chegar ao trabalho, de chegar em casa. Mas você não precisa, para ter manifestação, excluir os demais direitos das pessoas. O que aconteceu foi uma atrocidade contra a cidade."

Sobre as críticas de que a Polícia Militar demorou a agir ontem, Haddad disse que telefonou ao secretário Fernando Grella (Segurança Pública) e ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e ouviu explicações de que a polícia está orientada a evitar conflito e só agir em último caso.

"Obviamente, depois da quinta-feira, existe uma preocupação muito grande para que, de parte da população, não haja uma percepção de que a polícia esteja em contradição com ela. Existe uma preocupação grande da Polícia Militar neste momento de só agir em último caso, preservando a integridade física das pessoas."

Na quinta-feira (13), a PM foi criticada por ter contido a manifestação com uso indiscriminado de balas de borracha, que atingiram inclusive jornalistas, e detenções de pessoas que portavam apenas frascos com vinagre --usado para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo.

Haddad disse ainda que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) preservou o prédio da prefeitura e só acionou a PM "no tempo devido". (ANDRÉ MONTEIRO)


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