Folha de S. Paulo


Grupo de manifestantes bloqueia avenida diante do Palácio dos Bandeirantes

Um grupo de cerca de 100 manifestantes bloqueia desde o início da madrugada desta terça-feira o trecho da avenida Morumbi diante do Palácio dos Bandeirantes --sede do governo de São Paulo. Uma fogueira foi acesa no meio da via, impedindo a passagem de veículos.

Por volta das 6h40, os manifestantes continuavam bloqueando o tráfego no sentido ponte Cidade Jardim. Um agente da CET trabalha no local e alterna o sentido da única pista liberada para que os veículos possam trafegar nos dois sentidos. Mas a quantidade de manifestantes havia caído para 30.

Apesar da interdição, o clima no local é de tranquilidade. Policiais militares permanecem de prontidão dentro do Palácio dos Bandeirantes. Os manifestantes afirmam que continuarão no local indefinidamente.

Com aproximação de protesto, Palácio dos Bandeirantes é fechado
Aposentada de 82 anos participa de ato contra as tarifas em SP

Ainda no início da madrugada, manifestantes dirigiram dois ônibus biarticulados e usaram os veículos para bloquear a avenida. Os dois coletivos da linha 5119 (Terminal Capelinha - Largo São Francisco) foram guiados quando não havia mais passageiros.

O motorista de um dos coletivos disse que o ônibus dele e outro da mesma empresa seguiam pela avenida Morumbi quando foram bloqueados por manifestantes. Eles aguardaram e, quando pararam de ouvir barulho de bombas, decidiram seguir caminho imaginando que a via estava liberada

Ao se aproximar do palácio, foram cercados por manifestantes que exigiram que todos os passageiros saíssem do coletivo, inclusive cobradores e motoristas.

O motorista de um dos ônibus, que preferiu não ter o nome divulgado, disse que foi agredido, teve a mão ferida por uma pancada e, após deixar o veículo, se refugiou dentro do Palácio dos Bandeirantes. Ele disse ter mostrado o crachá da empresa onde trabalha aos policiais para conseguir entrar no local.

Quando os ônibus foram esvaziados, manifestantes então assumiram a direção e subiram nas caçadas, bloqueando os dois sentidos da avenida Morumbi.

"Nunca vi um aperreio que nem esse. Quando passei já estava voando pedra e bomba para tudo quanto era lado. Tinha muito passageiro, sorte que não ficou ninguém ferido", disse Manuel Marcos, 46, motorista de ônibus há 22 anos.

Marcos disse ainda que em dias normais deixa o trabalho às 22h, "mas já são 1h20 e ainda estou aqui [na frente do palácio]. Amanhã às 13h, entro de novo".

A empresa Campo Belo, dona dos coletivos, enviou funcionários para manobrar os veículos e seguirem para o 34º DP (Vila Sônia), onde será feito um boletim de ocorrência.

Ambos os ônibus tiveram os extintores furtados e esvaziados na via. Um dos veículos ainda teve o para-brisa e retrovisor quebrados, enquanto o outro foi pichado.

INVASÃO

Durante a noite de ontem (17), um grupo de manifestantes derrubou um dos portões de acesso ao Palácio dos Bandeirantes.

A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo, o que fez com que o grupo recuasse e não chegasse a invadir o prédio, de onde o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e secretários acompanhavam o protesto desde a tarde de segunda-feira.

"Não dá para segurar. O povo está revoltado", disse Caio Martins, membro do Movimento Passe Livre. Na frente do prédio, grupos de manifestantes se dividiram entre pedidos de paz e cantos do hino nacional antes de começar a dispersar.

Desde a chegada ao local, muitos manifestantes chutavam os portões e lançavam pedras em direção aos policiais, que ficaram do lado de dentro do palácio. Outros manifestantes, no entanto, tentavam acalmar as pessoas mais exaltadas.

Editoria de arte/Folhapress

PROTESTO

Durante todo o protesto de segunda, o movimento havia sido pacífico. Os cerca de 65 mil manifestantes, que se concentraram no largo do Batata, na zona oeste, no fim da tarde, se dividiram e fecharam vias como a Faria Lima, av. Eusébio Matoso, a av. Paulista, a ponte Estaiada e a marginal Pinheiros, antes de se dirigirem para o palácio dos Bandeirantes.

Esse foi o quinto protesto feito contra o aumento do transporte público. As últimas manifestações foram marcadas por confrontos. O último caso ocorreu na quinta-feira (13), quando houve confusão na rua da Consolação, na região central. Segundo organizadores, ao menos cem pessoas ficaram feridas e mais de 200 foram detidas. Dentre jornalistas, houve 15 feridos, sendo sete da Folha.

Um novo ato está marcado para as 17h desta terça, na praça da Sé, na região central da cidade. (ANDRÉ MONTEIRO)


Endereço da página:

Links no texto: