Folha de S. Paulo


Manifestantes classe A se reúnem no shopping Iguatemi antes de ato

Tradicional templo do consumo de luxo AAA, o shopping Iguatemi, na zona oeste paulistana, teve nesta segunda-feira (17) seu dia de "base de apoio" a manifestantes "prime".

Por volta das 16h, enquanto o Iguatemi montava uma "barricada", com duas camionetes nas entradas principais e uma barreira com ao menos 30 seguranças, lá dentro, a "concentração" dos participantes rolava no estacionamento, na praça de alimentação e nos cafezinhos.

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De óculos de mergulho pendurados no pescoço, a produtora de eventos Andréa Sarubbi, 46, veio de Alphaville participar do protesto.

Deixou o carro no estacionamento do shopping e foi esperar por um grupo de dez amigas no The Coffee Shop, na entrada principal da avenida Brigadeiro Faria Lima.

"Somos manifestantes chiques", brincou. "Não uso ônibus, mas minha parceira do lar usa. É pela voz do povo, ou seja, nossa voz, que o movimento ganha força", disse.

Ao seu lado, a treinadora intercultural Sylvia Beatriz, 49, óculos de natação do filho no pescoço, passava as coordenadas pelo iPhone às amigas. "Antes, achei que fosse um movimento de `esquerdóides', mas ganhou uma adesão incrível. Tem muitos filhos das minhas amigas aqui no protesto."

Nem o pescoço engessado --por conta de uma cirurgia na hérnia cervical-- deixou a psicóloga Denise Goulart Penteado, 53, em casa.

Moradora de Perdizes, ela também estacionou seu carro no shopping e seguiu para a passeata. "Não pretendo ficar no meio da multidão", avisou. "Mas não dava para ficar em casa diante de uma causa que ganhou repercussão mundial", disse ela.

Frequentadora do Iguatemi há tempos, a aposentada Elaine Del Matto, 57, estava surpresa com a operação "blindagem" do shopping. "Nunca vi isso antes." Ela levou a filha, Lígia, 22, para o manifestação, mas preferiu passear pelo shopping, onde o carro estava estacionado, aos invés de encarar a multidão lá fora. "Não tenho mais condições físicas para isso."

Ao lado da famosa joalheria Tiffany & Co, a pecuarista Teresa Cristina Vendramini, 50, encontrou-se com um grupo de amigos. Ela dirigiu por seis horas de sua fazenda em Adamantina (578 km a noroeste de SP) até a capital.

Veio por causa da manifestação. "Não dá para ser omisso. O protesto é um alento, um suspiro", disse ela. "É óbvio que não se trata de uma discussão de R$ 0,20."

Teresa Cristina disse que ali ela representava dois segmentos: o de pecuaristas e o de índios. "Na expectativa de que o governo discuta de forma mais séria e justa essa questão. É isso que quero representar aqui." E lá foram eles para a manifestação.

Às 18h20, as portas desceram. Muitas lojas fecharam.

Teve consumidor que não curtiu ficar "trancado". "Que horas vou sair daqui?", questionava a advogada Danila Roldão, 27, de Uberlândia, enquanto os manifestantes gritavam lá fora: "Oh, oh, oh, o Iguatemi fechouuu".

Danila tinha levado a amiga, a comerciária Cynara Ribeiro, 31, de Goiânia, para conhecer o Iguatemi. "Todos os meus parentes estão me ligando preocupados. Vi funcionários com medo e muitos irem embora", disse Cynara.

"Estou com raiva. Não quero ficar aqui presa. Não vejo ninguém protestando contra o aumento da cerveja. Não acho justo quando atropelam o meu direto de ir e vir."

Minutos depois, elas foram avisadas que a saída pela rua Angelina Maffei Vita estava liberada. Às 20h44, as duas portas principais da Faria Lima se abriram novamente.


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