Folha de S. Paulo


Mais de 2.800 brasileiros protestam na Europa e nos EUA contra aumento de tarifas

Em solidariedade, brasileiros espalhados pelo mundo também se mobilizam para apoiar os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus, metrô e trem nas principais cidades do Brasil. Na tarde deste domingo, mais de 2.800 brasileiros se organizaram nas cidades de Dublin (Irlanda), Berlim (Alemanha), Nova York (EUA), Boston (EUA) e Montréal (Canadá).

Em São Paulo, o Movimento Passe Livre fará um novo protesto amanhã, no largo da Batata, em Pinheiros. Durante a semana, o MPL organizou quatro protestos que resultou em 135 manifestantes detidos, 21 policiais e sete jornalistas da Folha feridos. A repórter Giuliana Vallone levou um tiro de bala de borracha no olho direito durante protesto na avenida Paulista na última quinta-feira (20). Ontem, ela recebeu alta e não corre risco de perder a visão.

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Na tarde deste domingo, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, anunciou um convite aos manifestantes do MPL para uma reunião às 10h na segunda. Em virtude do convite, o MPL decidiu antecipar uma entrevista coletiva --inicialmente marcada para o mesmo horário-- para as 9h, para participar da reunião com o secretário.

DUBLIN

Em Dublin, na Irlanda, cerca de 2.000 pessoas participaram do protesto que começou por volta das 13h (horário local) e terminou por volta das 16h30. A concentração aconteceu na O'Connel Street, região central de Dublin, onde se encontra um dos principais pontos turísticos da cidade, o Spire -- monumento em forma de agulha, situado na região central da cidade.

Os números são da polícia local, que acompanhou o evento, chamado Brazil Awakening Dublin. Segundo a organização, a ideia de promover apenas um ato, sem envolver caminhadas pela cidade, foi determinação da polícia, para evitar transtornos no trânsito.

Segundo Andréa Cordeiro, uma das organizadoras do evento, a quantidade de pessoas que compareceram surpreendeu a organização. "Tínhamos pouco mais de 3.000 presenças confirmadas no Facebook, mas não imaginávamos que as pessoas de fato fossem para a rua".

Os manifestantes conversaram com a polícia antes do protesto."No final, fizemos uma homenagem para a polícia: sentamos no chão, agradecemos e aplaudimos", disse a paulistana Carolina Valeis.

Segundo Valeis, que está na Irlanda há apenas um mês, a manifestação foi uma forma de apoiar os brasileiros que estão indo às ruas, "mesmo de longe". "Se eu estivesse no Brasil eu iria para a rua, não apenas pelos vinte centavos, mas por tudo", diz.

NOVA YORK

Nos Estados Unidos, na cidade de Nova York, os brasileiros tiveram dificuldades para realizar o evento no Central Park. Cerca de cem manifestantes, a maioria estudantes na faixa de 20 anos, se reuniram no local com cartazes. Contudo, o movimento teve de ser remarcado devido à falta de permissão da polícia local para a realização do evento.

"Nós imaginávamos que seria só um encontro de poucos amigos, mas foi ganhando muita adesão no Facebook. Quando passou de mil, procuramos a polícia, mas eles disseram que precisava de mais antecedência para agendar", disse Jean Nogueira, um dos organizadores.

"A página foi retirada do ar por recomendação do Departamento de Polícia, mas as pessoas vieram mesmo assim", disse Nogueira. O grupo tentará organizar novo encontro amanhã no mesmo local.

Editoria de Arte/Folhapress
Clique na imagem e veja onde acontecerão os protestos ao longo da semana
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BOSTON

Na cidade de Boston, em Massachusetts (EUA), um grupo formado por pesquisadores, trabalhadores, voluntários e estudantes se reuniram neste domingo para dar "apoio às manifestações e contra a violência e repressão policial que os cidadãos de São Paulo têm sofrido".

A brasileira Ana Paula Alves, 24, está há quatro meses morando nos Estados Unidos para estudar inglês. Ela conta que participou do protesto realizado hoje em Boston. Segundo Alves, apenas 200 pessoas participaram do protesto, que teve a presença de estudantes de outras nacionalidades. "Mais de 1.500 pessoas foram convidados, mas apenas 590 confirmaram e 200 compareceram", disse Alves.

Alves diz que ficou decepcionada com a falta de participação dos brasileiros, já que a cidade de Boston é uma das maiores comunidades brasileira nos Estados Unidos.

"Fiquei contente e triste ao mesmo tempo. Contente, pois é válida toda iniciativa a favor das manifestações e contra a repressão militar. Fiquei triste, pois Boston tem a maior comunidade brasileira e muitos não compareceram. Apenas os estudantes internacionais politizados e com uma situação boa no Brasil foram manifestar. Achei lamentável, pois moro no bairro brasileiro. Estou indignada em como o imigrante brasileiro e ilegal com sub emprego aqui não compareceu".

BERLIM

Na cidade de Berlim, na Alemanha, cerca de 350 pessoas se reuniram neste domingo na Kottbusser Damm, uma das principais vias da cidade, para apoiar os manifestantes brasileiros.

O evento foi organizado pela publicitária paulistana Juliana Doraciotto, 25, que vive na Alemanha há um ano. Na página do Facebook do evento tem a foto principal de Giuliana Vallone, repórter da Folha atingida no olho por uma bala de borracha enquanto cobria os protestos na última quinta-feira (13).

A polícia acompanhou todo o protesto que recebeu o apoio de integrantes do movimento turco, que tem ido às ruas todos os dias para chamar a atenção sobre a situação na Turquia --há cerca de duas semanas manifestantes estão reunidos na praça Taksim e fazem críticas ao regime do premiê Recep Tayyip Erdogan.

Segundo Doraciotto, ela teve que preencher um protocolo no site da prefeitura de Berlim informando dados pessoais, tema da manifestação, quantas pessoas eram esperadas no ato e qual seria o trajeto percorrido. O documento deve ser enviado com 48 horas de antecedência e é respondido em um tempo que varia entre 15 minutos e seis horas.

"Cinco minutos antes da hora marcada para o protesto, chegaram três carros da polícia. Os agentes, com o meu protocolo e me chamando pelo nome, me instruíram sobre como proceder e explicaram como poderiam ajudar, antes que saíssemos caminhando", explica.

Os participantes do ato tiveram que obedecer várias regras. Não podiam sair andando sem avisar os agentes e, se quisessem parar precisavam avisar os policiais com antecedência, para evitar problemas no trânsito.

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MONTRÉAL

Apesar da chuva, cerca de 150 pessoas protestaram em frente ao consulado brasileiro na Westmount Square, em Montreal, no Canadá, por volta das 13h30 deste domingo (horário local). O movimento "Democracia não tem fronteiras" fez a mobilização por meio das redes sociais e a caminhada que saiu da praça do Canadá até o Consulado ocorreu de forma pacífica, sem imprevistos.

Como prevê a lei do país, o trajeto foi comunicado às autoridades locais, que concederam a permissão do protesto. Durante o trajeto, os manifestantes foram acompanhados pela polícia.

Para o publicitário Fabiano Pimenta, a chuva não contribuiu para um maior número de pessoas. Na página do evento no Facebook, mais de 700 pessoas confirmaram presença. "Acho que foi o Alckmin que mandou essa chuva para cá, já que a polícia daqui ele não controla", ironizou Pimenta. A estudante de mestrado Ana Cláudia Costa fez um cartaz pedindo menos samba e mais dignidade, sem medo do tempo ruim. Duas horas depois do início da caminhada, os manifestantes guardaram suas faixas e cartazes e começaram a dispersar, ainda com chuva.

Com muitas bandeiras do Brasil e faixas de verde e amarelo, os manifestantes levaram diversos cartazes criticando a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. Um deles simplesmente dizia: "Fuck the Cup". Os cartazes foram escritos em português, inglês e francês --Montréal fica na província francofônica de Québec, no Canadá.

PARTICIPAÇÃO

Se você for participar ou se sentir prejudicado pela manifestação, envie seu relato ou imagens para a Redação. Elas poderão ser publicadas pela Folha.

O leitor pode acessar a página "Envie sua notícia" para enviar as informações (nome completo, idade e local), ou encaminhá-las diretamente pelo e-mail enviesuanoticia@grupofolha.com.br ou enviar pelo Instagram com a hashtag #InstaFolha09.


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