Os dois movimentos de protesto que ocuparam o noticiário nas últimas semanas, em Istambul e São Paulo têm contextos diferentes, mas seguem roteiro semelhante.
Começaram com uma pauta centrada no dia a dia das cidades --a defesa de um parque no caso turco e a rejeição ao aumento da tarifa de ônibus, no brasileiro.
Demandas que, relevância à parte, pareciam muito pouco para fazer as coisas chegarem onde chegaram.
Nos dois casos, porém, a ação da polícia vem contribuindo para tirar das manifestações o caráter restrito e engrandecê-las.
Yannis Behrakis/Marlene Bergamo/Reuters/Folhapress | ||
Manifestantes na praça Taskim, em Instambul (à esq.); jovens enfrentam bombas de efeito moral durante protesto em São Paulo |
A repressão a protestos pacíficos na praça Taksim transformou o movimento em uma cruzada por direitos civis.
A tentativa de destruir a área verde para ali colocar um shopping center simboliza agora o autoritarismo do premiê Recep Erdogan e suas tendências islamizantes, embora ele tenha sido eleito democraticamente.
Em Istambul não houve vandalismo como aconteceu na avenida Paulista, o que ajudou os manifestantes a serem aceitos como "ativistas" mais rapidamente.
Agora, a reação da PM paulista caminha para dar ao Movimento Passe Livre status semelhante.
Não será surpresa se nos próximos protestos a tarifa de ônibus virar um rodapé de algo maior, o direito de se manifestar sem ser agredido. Exatamente como ocorreu com as árvores de Istambul.
Na Turquia, a pressão surtiu algum efeito. Erdogan esbravejou, mas mudou grande parte de suas posições: aceita um referendo e respeitará uma decisão judicial sobre o futuro do parque.
O novo protesto marcado para amanhã, no largo da Batata, em Pinheiros, será crucial para medir o poder de fogo desse até então improvável movimento. Será que ele será capaz de fazer Haddad e Alckmin recuar?