Folha de S. Paulo


Manifestação no Rio termina com sede da Assembleia Legislativa pichada e 21 detidos

Os protestos que tomaram a região central do Rio de Janeiro nesta quinta-feira (13) deixaram a fachada do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio, completamente pichada com frases como "Fora Cabral", "Fora Paes" e "Casa de ladrão".

A manifestação no Rio começou às 17h de ontem com uma aglomeração de estudantes na praça Pio X, situada atrás da igreja da Candelária, em um dos pontos de maior movimento do centro. De acordo com a PM, 2 mil pessoas participaram do ato; já os manifestantes afirmam que o número chegou a quase 10 mil. Três pessoas ficaram feridas (um policial, um estudante ativista e um trabalhador a caminho de casa) e 21 foram detidas na 5ª DP (19 delas foram detidas pela Tropa de Choque quando se aproximavam da sede da prefeitura do Rio).

Além do Palácio Tiradentes, dezenas de prédios ao longo da rua Primeiro de Março e da avenida Presidente Vargas foram pichados. Vidros de proteção dos pontos de ônibus foram quebrados. O mesmo aconteceu com agências bancárias e a entrada de um hotel de luxo. Pelas ruas, sacos de lixo acabaram incendiados.

O protesto começou como um ato pacífico de estudantes, marcado pela irreverência carioca em críticas ao preço das passagens com coreografias e paródias inspiradas nos gritos das torcidas de futebol: "Vem, vem, vem pra rua, vem. Contra o aumento!".

A fumaça se misturou ao gás lacrimogêneo lançado por policiais da Tropa de Choque da PM. Houve ainda balas de borracha e bombas de efeito moral. Roteiro semelhante ao da última segunda-feira (10) quando a manifestação contra o aumento das passagens somou uma lista de danos ao patrimônio público.

"Vamos mobilizar o Choque se houver indício de violência", disse à Folha o tenente-coronel Sidney Camargo, comandante do 5° Batalhão da PM, que naquele início de manifestação mobilizou 100 homens de seu grupamento ao redor da praça.

Às 18h10, o estudantes deixaram a Candelária e seguiram pela avenida Rio Branco, que teve o trânsito interrompido. Muitos carregavam cartazes com mensagens como "Desculpe o transtorno, estamos mudando o Brasil."

Três carros de som, fornecidos por sindicatos que participavam do protesto, estavam à disposição dos líderes do ato que reuniu estudantes de universidades públicas e privadas, além de representantes partidos políticos e grupos associados a direitos humanos.

Pelo microfone, um deles pedia que todos se abaixassem até iniciar o coro: "Quem não pula, quer aumento!" A multidão respondia com saltos como se estivesse em uma micareta.

No trecho final da Rio Branco, diante do Theatro Municipal, os estudantes decidiram seguir até a Assembleia Legislativa do Rio.

A policiais do 5º BPM acompanharam o deslocamento à distância. A entrada principal do Palácio Tiradentes, sede do poder legislativo, foi completamente ocupada pelos estudantes, momento celebrado com alguns fogos de artifício.

O tom pacífico se perdeu com as latinhas de spray. A fachada, a escadaria e as estátuas do prédio histórico foram completamente pichados.

Pelas frestas existentes nas portas de ferro do palácio, alguns manifestantes lançaram bombas semelhantes às usadas por torcedores em estádios.
Ali acabou oficialmente o protesto. E uma parte seguiu caminhando em direção à estação Central do Brasil.

No trajeto, o grupo pichou fachadas de prédios e revirou latas de lixo da Rua Primeiro de Março. Ao chegar à avenida Presidente Vargas, os atos de vandalismo se acentuaram.

A reportagem da Folha presenciou o momento em que manifestantes atacaram com pedras os policiais encarregados de monitorar a dispersão. Um deles lançou um coquetel molotov, que caiu próximo à moto de um oficial, a poucos metros dos carros que aguardavam o sinal verde para cruzar a Presidente Vargas.

Os policiais do 5º BPM responderam com gás de pimenta e tiros de borracha. Um disparo atingiu o rosto do estudante Philippe Brissaut de Andrade Lima, 19, que foi levado para o hospital Souza Aguiar, no centro.

"Ele está com o olho bem inchado e fechado. Vamos aguardar os exames para saber o que aconteceu", disse Cristiane Brissaut, 46, mãe do rapaz, na entrada do hospital.

Muitos estudantes, entre eles mulheres, corriam desorientados no meio da confusão. Outros, com camisetas escondendo seus rostos, quebraram os vidros de proteção de todos os pontos de ônibus ao longo da Presidente Vargas. Atingiram com pedras as fachadas de quatro agências bancárias, do hotel Windsor Guanabara e do edifício da Embratel. Queimaram sacos de lixo e deixaram um rastro de spray de tinta.

Após os primeiros tiros de borracha, um grupo tentou dialogar com os PMs. Até que três bombas de gás lacrimogêneo caíram no chão bem ao lado dos policiais do 5ë BPM.
"Que merda é essa?", perguntou o comandante Camargo, ao ser surpreendido pela ação da Tropa de Choque da PM.

Antes de qualquer reação, mais bombas foram lançadas na mesma direção. Os policiais do 5º correram para se afastar do gás, assim como os manifestantes. Uma nuvem cinza se espalhou pela Presidente Vargas, enquanto bombas de efeito moral ecoavam em pontos distintos da avenida.


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