Folha de S. Paulo


'Descolados' criam movimento antiviolência em São Paulo

Pelo número de voluntários que apareceu ontem na hora do almoço nas escadarias do Masp, dá para arriscar um palpite: esse grupo parece que vai fazer barulho.

Cerca de 200 pessoas, que atuam nas mais variadas áreas, foram ao Museu de Arte de São Paulo prestar solidariedade ao mais recente movimento da cidade, o "Juntos pela Vida: Acorda Brasil" -é verdade que tinha muita gente que não sabia exatamente o porquê de estar ali.

Recém-criado, o grupo é a cara de São Paulo. Nasceu cosmopolita e diversificado em reação à onda de violência que assusta a cidade -e a classe média paulistana ultimamente, em especial.

Danielle Dahoui, chef do restaurante Ruella (vítima de arrastão no mês passado, no Itaim), Yael Steiner, diretora do Centro da Cultura Judaica, e a empresária Jessica Markus formam o "batalhão de frente" do movimento.

Marcelo Justo/Folhapress
Integrantes do movimento
Integrantes do movimento "Juntos pela Vida: Acorda Brasil", contra a violência, participam de evento no vão livre do Masp

Há ainda apoio de ONGs, como a Fundação Gol de Letra (do ex-craque Raí) e a Doutores da Alegria (Wellington Nogueira), além de associações, empresários e representantes de bairros. Reforçam o time nomes como o do ativista José Júnior, do AfroReggae, reconhecido pelo trabalho de mediação de conflitos em comunidades do Rio, e o do chef Alex Atala.

As líderes negam que o movimento seja elitista. "Temos que sair dessa zona de conforto. Não adianta só posar para fotos", avisa Yael, 38.

A segunda manifestação que pretende "acordar" a cidade de São Paulo tem nome e data: 1ª Passeata Pacífica pela Segurança, na praça da Sé, no dia 4 de agosto, às 11h, com todos de branco.

O aviso já corre em redes sociais como o Facebook.

Danielle, 44, faz questão de avisar que não se trata de um movimento de chefs estrelados de São Paulo contra arrastões em restaurantes. "É um movimento pró-vida. Não dá para ser feliz sozinho."

As líderes dizem que trabalham numa pauta de assuntos urgentes que afligem a população. Depois de mapear os problemas, "vamos buscar sugestões que deram certo em outros bairros, cidades e países", explica Danielle.

Meta ambiciosa, não é mesmo? Yael diz que o primeiro passo, prático, será dado na próxima quarta-feira, quando as líderes do movimento vão se reunir com o secretário da Segurança Pública do Estado, Fernando Grella Vieira -o próprio já se manifestou disposto a atender aos movimentos sociais.

O encontro "servirá para traçarmos um diagnóstico dos problemas de segurança e oferecermos colaboração", diz Yael. "Não só os que atingem os bairros de elite."

As líderes do "Acorda" rechaçam qualquer semelhança com o "Cansei", movimento de vida curta que surgiu e ganhou fama em 2007.

"Somos apolíticos", afirma a empresária Jessica. Diz mais: "Queremos envolver bairros distantes e classes sociais diferentes, todo paulistano em prol da paz".


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