Folha de S. Paulo


Análise: Tática e armas são essenciais, mas PM também precisa ter disciplina

Não é apenas o equipamento diferenciado, mas também as táticas especializadas que as polícias do mundo todo usam para controlar distúrbios, como os que a capital paulista tem vivenciado.

A Polícia Militar do Estado mais rico do país é sem dúvida a melhor equipada da Federação, e tão bem treinada quanto outras.

Tudo se resume em utilizar táticas e arsenal "não letal" para controlar de modo pacífico um distúrbio seja de torcedores der futebol, seja de "baderneiros".

Napoleão Bonaparte deu um exemplo clássico de como isso era feito no final do século 18. Uma revolta popular em Paris ameaçava a nascente Revolução Francesa republicana. Ele não teve duvida: "metralhou a ralé" monarquista, usando canhões com balins em forma de cacho de uva. Matou dezenas.

Desde então as forças da lei e da ordem ficaram mais sofisticadas, pois o objetivo é conter a população em revolta, não chaciná-la.

Curiosamente, vem do francês o equipamento que ainda é o mais popular e que serve como a "primeira linha" dos policiais: o cassetete, aportuguesamento de "casse-tête", literalmente quebra-cabeça em francês.

LEGIONÁRIO ROMANO

O moderno policial de uma força de choque lembra um legionário romano de dois mil anos atrás. Tem um escudo com forma praticamente igual (mas que a tecnologia permite ser transparente), um capacete e uma arma de mão -em vez do gládio (espada curta), o cassetete.

E as táticas são parecidas, como quem viu as cenas iniciais de batalha do filme "Gladiador" pode constatar. De um lado, uma tropa disciplinada, escudo encostado em outro escudo; do outro uma horda ululante disparando contra a formação.

A diferença é que na segunda linha os policiais têm armas não letais.

Primeiro, lançadores de granadas de gás lacrimogêneo, ou de spray de pimenta. Depois, fuzis com balas de borracha. Essas balas raramente matam -mas podem cegar ao atingir um olho, logo são uma última opção.

Outros equipamentos podem incluir blindados capazes de disparar jatos d'água ou mais gases incapacitantes.

Armas letais costumam ser evitadas. Mesmo a pistola de dotação básica de um policial pode provocar uma crise.

Ou o policial temeroso aponta e atira, ou um manifestante consegue, no meio do confronto, pegar a arma de um policial.

Táticas e equipamento são essenciais. Mas o policial tem que ter antes de tudo disciplina -obedecer ordens sem pestanejar, manter sua posição, evitar confrontos desnecessários.

O policial que quase foi linchado, mas mesmo assim evitou disparar contra seus agressores, é um perfeito modelo dessa disciplina.


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