Folha de S. Paulo


Colégio tradicional de SP barra estudante que usava saia; alunos prometem 'saiaço'

Discutida na USP desde abril, a polêmica sobre o uso de saias por homens chegou ao Bandeirantes, tradicional colégio de São Paulo.

Na última sexta, a escola proibiu um aluno de 17 anos que usava a vestimenta de assistir às aulas. Hoje, os colegas devem fazer um "saiaço".

O jovem do terceiro ano do ensino médio estava com saia comprida quando foi visto por Mauro de Salles Aguiar, diretor-presidente da instituição, que cobra mensalidade média de R$ 2.400 e tem entre seus ex-alunos o prefeito Fernando Haddad (PT-SP).

"Confesso que inicialmente interpretei como atitude de confronto contra a escola", disse o diretor. "Tenho mais de 60 anos. Um rapaz vestido de saia não é uma coisa que você espera ver na Vila Mariana [bairro de classe média] às 10h e pouco da manhã. Ele não está numa galeria de arte, está numa escola."

"Me perguntaram se não estava preocupado com o que meus amigos iriam dizer", afirmou o jovem. "Respondi que não via problema algum, porque acho algo normal."

SEGURANÇA

O diretor do colégio disse à Folha que a proibição do uso de saia pelo estudante durante as aulas foi feita para protegê-lo. No Bandeirantes, os estudantes podem sair para a rua nos intervalos das aulas.

"É altamente irresponsável e leviano por parte dos pais expor o filho a esse laboratório de experiências sociais. Se eles não têm preocupação com a segurança, o colégio tem que ter", diz ele.

"Se estavam tão preocupados com sua segurança, não teriam mandado ele embora para casa", rebate a mãe, que foi buscá-lo antes do término das aulas. O garoto pediu para esperá-la na rua, e o colégio deu a autorização.

"Não vejo como uma saia longa, até os pés, poderia ofender alguém. A atitude do meu filho é um reflexo do movimento que discute a indumentária por gênero."

No dia anterior, caso semelhante havia ocorrido com outro aluno do ensino médio.

Na festa junina do colégio, o jovem de 16 anos foi vestido com saia por cima de uma calça jeans, blusa amarrada que deixava a barriga de fora e maquiagem. O garoto não foi punido, mas a diretoria pediu que ele colocasse roupas "mais adequadas".

O diretor diz haver um grupo de trabalho no colégio estudando a questão da diversidade. "A instituição não é isenta de preconceitos, porque ninguém é, mas está procurando entender e se adaptar às mudanças."

O colégio enviará carta com recomendação de que os alunos não adotem o vestuário, mas permitindo o uso de saias, desde que a responsabilidade jurídica pela segurança do adolescente seja transmitida aos pais, por meio de termo de compromisso.

Na página do evento do "saiaço", anúncio do colégio foi modificado por ex-alunos.

A propaganda da escola, que afirmava "É comum ver os alunos chegando de sandálias. Eles sabem que não são avaliados pelo que têm nos pés", agora tem o acréscimo, ironizando: "Mas saia já é coisa de viado, né?".

USP

No dia 24 de abril, Vitor Pereira, 20, calouro do curso de têxtil e moda da USP (Universidade de São Paulo), vestiu uma saia e foi à aula, no campus da zona leste de São Paulo. Por isso, foi alvo de críticas, e chegou a receber ofensas no Facebook.

Pereira, então, decidiu criar uma página na rede social --chamada "Homens de saia"-- para defender o uso da peça por ambos os gêneros e ganhou vários adeptos na universidade.

Em manifestação contra as ofensas à Pereira, estudantes da USP organizaram o protesto "USP de saia!", e decidiram ir às aulas e passar o dia de saia.

No dia 16 de maio, alunos se reuniram em campi da USP vestindo a peça de roupa para apoiar a causa.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Alunos da USP usam saia, em protesto contra ofensa recebida por colega que estava com vestimenta
Alunos da USP usam saia, em protesto contra ofensa recebida por colega que estava com vestimenta

Endereço da página: