Folha de S. Paulo


Demitido após campanha para prostitutas aponta "situação conservadora"

Exonerado do Ministério da Saúde dias após lançar, nas rede sociais, uma ação voltada para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis entre prostitutas, Dirceu Greco aponta para o que vê como uma "situação nacional e internacional conservadora".

Na terça-feira (4), o ministro Alexandre Padilha (Saúde) mandou suspender para reavaliação a ação, composta por imagens de mulheres com frases de impacto e um vídeo. E decidiu exonerar Grego do cargo de diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério.

Não é a primeira vez que campanhas lançadas por Greco foram retiradas de circulação. No início de 2012, Padilha determinou a troca de uma peça que focava na prevenção entre jovens gays.

"Minha opinião é que perderam a chance de transformar um limão numa limonada: 'Olha o que o Ministério da Saúde está fazendo: discutindo direitos humanos num país laico'", disse Greco, que deve reassumir seu cargo de professor na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Em e-mail de despedida enviado no início da tarde desta quarta-feira (5), Greco foi mais afiado nas críticas ao governo, chamando sua atual política de "conservadora".

"Esta é para comunicar que fui destituído e rapidamente exonerado (...) por discordâncias do ministério com a condução da política de direitos humanos e valorização de populações em situação de maior vulnerabilidade, que não coadunava com a política conservadora do atual governo", diz trecho do e-mail.

Veja trechos da entrevista

Folha - O Sr. foi exonerado...
Dirceu Greco - Fiquei triste, mas que bom que vamos continuar falando que as prostitutas são felizes.

O que aconteceu?
Estou exonerado do papel de diretor do departamento, que é parte da Secretaria de Vigilância em Saúde, que é vanguardista principalmente na defesa dos direitos humanos, sem discriminação de gênero ou orientação sexual. Aquela não era uma campanha, foi uma homenagem, que fazemos todo ano para a visibilidade das prostitutas, e foi desenvolvida junto com elas.

Me conte sobre essa ação.
Aquele cartaz --"Eu sou feliz sendo prostituta"-- tem relação com a saúde, sim, faz parte da saúde mental a valorização [da mulher]. 'Sou [prostituta], tenho meu direito à felicidade e meu direito a ter direitos'. E não era uma peça sozinha, era junto de algo maior, que tratava do uso do preservativo.

O Sr. disse que o departamento tinha essa característica vanguardista, o Sr. vê na reação um conservadorismo? Por que outras campanhas também foram vetadas?
É difícil colocar, eu estou saindo do ministério. Estamos vivendo uma situação nacional e internacional conservadora. Nem é religiosa, é briga de poder. Fico preocupado com uma eventual situação de conservadorismo total. Sempre fico com medo de lançarem um plebiscito pela pena de morte. Sabe-se lá o que está na cabeça das pessoas.
Minha opinião é que eles perderam a chance de transformar um limão numa limonada: 'Olha o que o Ministério da Saúde está fazendo: discutindo direitos humanos num país laico, valorizando que cada um pode ser o que quiser'. Perderam a chance e usaram a tecnicalidade, dizendo que as peças não passaram pela tramitação [pela assessoria do ministro]. Espero que [a ação] volte [para as redes sociais], já que eles tiraram para avaliar.

Divulgação/Ministério da Saude
Cartaz divulgado pelo Ministério da Saúde nas redes sociais; ministro vetou a campanha nacional
Cartaz divulgado pelo Ministério da Saúde nas redes sociais; ministro vetou a campanha nacional

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