Folha de S. Paulo


Inundações atingem ao menos 15 mil moradores de Manaus

Apesar de ser um fenômeno natural previsível, a cheia dos rios na Amazônia voltou a inundar áreas urbanas da região neste ano e castiga ao menos 15.500 pessoas em bairros pobres de Manaus, que ficam às margens do rio Negro.

Hoje, o nível do rio chegou a 29,29 metros --a 68 cm do recorde da enchente registrada no ano passado, que foi de 29,97 m.

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Ruas de sete bairros da capital do Amazonas estão tomadas pelas águas. A Prefeitura de Manaus diz que construiu 2,5 km de pontes de madeira para o acesso da população.

Cerca de 816 famílias cadastradas pelo município estão recebendo um auxílio moradia de R$ 300. Com o dinheiro, algumas conseguiram alugar um imóvel em áreas sem inundações.

O governo do Amazonas diz que continua retirando famílias que moram em áreas de risco pelo Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus).

Segundo o governo, desde o segundo semestre do ano passado foram retiradas 1.776 famílias de cinco bairros da bacia do São Raimundo, afluente do rio Negro. As famílias beneficiadas são dos bairros Presidente Vargas, Aparecida, São Raimundo, Glória e centro. A previsão é que até 2017 sejam retiradas mais 3.000 famílias dessas áreas.

Na Comunidade do Bariri, no bairro Presidente Vargas, na zona sul da cidade, as famílias estão com água dentro de casa há mais de dois meses. Na região, o nível do rio Negro já subiu sete metros do chão até as casas.

Na palafita (casa de madeira suspensa sobre estacas) do casal Marilza Teixeira de Souza, 34, e Amarildo Santos da Silva, 40, as águas inundaram a sala, um quarto e a cozinha.

Como a profundidade é alta, ela diz que tem medo que as filhas, de 13 e 9 anos, sofram afogamentos e ataques de animais, como cobras, jacarés, ratos e sanguessugas.

A família, que mora na comunidade há 20 anos, diz que não recebeu ajuda de autoridades para se mudar. Ela sobrevive com o recurso de R$ 194 do programa Bolsa Família. "Não recebemos nada, nem um pedaço de madeira para fazer o assoalho", disse Marilza Souza.

O assoalho é um novo piso que as famílias ribeirinhas constroem dentro de casa para se abrigar do alagamento. Na cheia histórica do rio Negro em 2012, Marilza conta que teve que subir o assoalho quase no teto. "Tivemos que andar de cócoras dentro de casa. Pelo visto, não vamos sair daqui este ano. Outra cheia vamos passar", disse.

Na rua Humberto Campos, no bairro São Jorge, na zona oeste, muitas famílias deixaram as casas e foram morar em partes mais altas da região. A dona de casa Arlete Domingos, 37, não seguiu o mesmo caminho por medo dos saques. Ela enfrenta as cheias do rio Negro há 30 anos.

Kátia Brasil/Folhapress
Casal Marilza Teixeira de Souza, 34, e Amarildo da Silva, 40, estão convivendo com água dentro de casa na Comunidade do Bariri, zona sul de Manaus
Casal Marilza Teixeira de Souza, 34, e Amarildo da Silva, 40, estão convivendo com água dentro de casa na comunidade do Bariri

"Nós vivemos numa calamidade. Tem idosos e crianças morando ilhados dentro de casa. Não podemos deixar as casas por medo dos saques", afirmou.

O autônomo Adamor Ferreira Chagas, que mora na mesma rua de Arlete, fechou a própria casa e alugou outra por R$ 250 para mulher e um filho. "No ano passado mudei e fui morar com minha sogra. Esse ano já mudei e estou pagando o aluguel com o meu dinheiro, não tenho ajuda de ninguém", afirmou.

Segundo o Serviço Geológico do Brasil, órgão federal que monitora os rios do país, nos próximos 15 dias o nível do Negro pode chegar a 29,71 m. As famílias vão conviver com água dentro de casa por mais 60 dias, diz o engenheiro de hidrologia Daniel Oliveira.

Na bacia amazônica, a cheia ocorre no inverno local, entre novembro e junho. O regime de chuvas é que determina se a enchente será grande. Neste ano, as precipitações no Amazonas então influenciadas pela chamada zona de convergência intertropical, fenômeno climático que provoca chuvas acima da média.
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