Folha de S. Paulo


Drag queen há 3 meses, estudante faz curso de maquiagem em Feira LGBT

Há três meses, o estudante de administração Walber Nascimento, 20, decidiu inovar no visual para ir a uma balada com amigas em São Paulo. Em vez de calça jeans e camiseta, usou uma peruca, muita maquiagem, salto alto e roupas femininas. O sucesso foi tanto que ele foi convidado para trabalhar como anfitriã em uma casa noturna dias depois.

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Nesta quinta-feira, feriado de Corpus Christi, Nascimento -- ou Ashley Lemes, como prefere ser chamado-- decidiu investir na carreira alternativa e participou de uma oficina de maquiagem para drag queens na 13ª Feira Cultural LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). O curso foi organizado pelas drags Dindry Buck e Sissy Girls no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.

Além da produção, o curso deu dicas de como se comportar em eventos e divulgar o trabalho na internet. "Nas redes sociais, é importante escolher um bom fotógrafo para tirar fotos e caprichar na maquiagem. A internet serve como uma vitrine do trabalho, então não é bom tirar foto no banheiro e divulgar, por exemplo", disse o jornalista Eduardo Morais, um dos convidados a falar sobre o mercado de trabalho das drag queens no workshop.

Segundo a veterana Dindry Buck, drag queen há 15 anos, o workshop foi voltado exatamente para pessoas como Nascimento, que estão começando no mercado de trabalho e não sabem os macetes da profissão. "Queremos que os alunos aprendam a se maquiar, se preparar, para ter mais independência. Eles devem se profissionalizar para entrar neste mercado tão grande e conseguir ganhar dinheiro", disse.

Nascimento disse que pretende trabalhar como administrador, mas não vai deixar de lado o que chama de sua "vida noturna". "Gosto de salto alto e de roupa feminina. Me sinto muito bem. Me sinto uma mulher, uma diva, na verdade". Apesar disso, admite que a roupa incomoda. "Ela é pesada. Ser mulher é meio difícil".

Dindry Buck acrescenta que a ocupação é cara. "A maquiagem não é a mesma que mulher usa, pois precisamos tampar a sobrancelha. A roupa também não é barata, mas depois de um tempo, vem o retorno financeiro", diz.

SALTO EM CASA

Não apenas as drag queens e as transformistas gostam de usar salto alto. O auditor de vendas Felippe Farias, 22, gosta tanto do "status" que o acessório lhe dá que diz que o usa até em casa. Durante a feira de hoje, ele usava uma sandália verde e roxa. "Valoriza o corpo. Eu já fui drag queen por três anos, mas agora não sou mais. Apesar disso, não deixo o salto de lado", diz.

Ele aproveitou a feira para apresentar seu amigo Ray Portela, 19, aos eventos LGBT. Ray é de Dias d'Ávila, cidade no interior da Bahia, e disse que nunca tinha participado de nada semelhante. "Vim para São Paulo em março para me libertar. Meus pais são cristãos e não aceitavam o fato de eu ser gay", afirmou.

Ele disse que achou a feira "um bafo", mas que está mais ansioso pela Parada Gay, que vai acontecer no domingo. "Vai ser um bafo maior ainda", disse.


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