Folha de S. Paulo


Terapia de dependentes de crack inclui trabalho e horário rígido

Os internos da comunidade Conquista, que só aceita homens, vivem em uma espécie de regime de autogestão. Eles são responsáveis por toda a manutenção da chácara.

Há os que cuidam da limpeza da casa e da piscina e os que mantêm o jardim aparado.

Dívidas e recaídas são casos comuns entre os internos
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Outros cuidam da horta e da alimentação dos peixes, patos, galinhas e cachorros.

Três fazem a comida: salada, arroz, feijão, linguiça ou carne moída e legumes.

Parte dos rapazes trabalha ainda na confecção de chaveiros, vendidos em ônibus.

As atividades fazem parte da laborterapia -terapia feita por meio do trabalho.

Duas vezes na semana, há atendimento com a psicóloga -para uma sessão de terapia individual e outra em grupo.

Muitos tomam remédios para controlar ansiedade e sintomas da abstinência. Um psiquiatra vai uma vez por semana para ajustar as doses.

Duas tardes na semana e aos domingos o tempo é livre: eles podem jogar vôlei, futebol, nadar e usar a academia.

O tratamento de nove meses é dividido em etapas. Quando chegam, os pacientes são colocados em quartos compartilhados na casa principal, onde dorme um monitor. A porta é trancada às 22h.

Depois de quatro meses, quando passa a fase mais aguda da abstinência, eles podem mudar para quartos menos vigiados, na área do pátio.

Apu Gomes/Folhapress
Internos rezam durante culto na comunidade Conquista, na Grande SP
Internos rezam durante culto na comunidade Conquista, na Grande SP

Por volta dos cinco meses (ou quatro para os que têm filhos), ganham o direito à "ressocialização": passam um final de semana a cada 15 dias na casa da família. Depois, todos os finais de semana.

Aos seis meses, podem mudar para a "república", uma casa distante da principal, na entrada da chácara.

Os oito internos que a habitam têm mais liberdade. Podem ouvir a música que quiserem e assistir TV até tarde. Neste período, podem procurar emprego ou estudar.

"Auxiliamos eles a lidar com a liberdade. A gente percebe que uma das grandes dificuldades não é ficar sem a droga e, sim, viver a vida sem ela", diz o presidente da comunidade, Luis Gustavo Américo da Silva, 38, pastor de uma igreja pentecostal.

Ele mesmo passou por internação parecida. Dependente de crack, ficou dois anos em uma comunidade terapêutica e decidiu que passaria a ajudar outros viciados. Em 2005, montou a Conquista.

Outros três funcionários, monitores da comunidade, têm história parecida. Trataram-se ali e permaneceram.

Para o pastor, a maior virtude do tratamento é, justamente, a ajuda mútua. "Todos são pacientes e terapeutas."

Quando um quer desistir, por exemplo, os colegas são os primeiros a tentar convencê-lo a ficar. Sabem que amanhã podem precisar da ajuda.

CUSTOS

O pastor diz que o custo do tratamento gira em torno de R$ 2.000 por paciente/mês.

Na comunidade, há internos particulares que pagam R$ 1.000. O Governo de SP, parceiro da instituição desde fevereiro, paga R$ 700 ao mês.

As contas só fecham com doações de empresários.

Caso a comunidade seja credenciada no programa Recomeço terá que adaptar o tratamento para seis meses ou pagar do próprio bolso os três meses que faltariam para completar o tratamento.

Editoria de Arte/Folhapress

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