Folha de S. Paulo


Brasileiros dão a volta ao mundo em bem mais de 80 dias

Fernando Lara, 33, caminhava por uma trilha em Timphu, capital do Butão, quando o guia que o acompanhava ficou trêmulo. No sentido oposto, montado em uma bicicleta e cercado por seguranças, vinha Jigme Singye Wangchuck, o rei do país.

Orçamento curto não é obstáculo para viagem

Sua majestade, criadora do conceito de Felicidade Interna Bruta, parou, olhou para Fernando e perguntou, em inglês: "você é um turista?". Depois de ouvir a resposta afirmativa, trocou com o viajante algumas palavras sobre felicidade e seguiu em frente.

Lívia Aguiar, 26, viajava de ônibus para Petra, na Jordânia, quando começou a conversar com uma nativa. O bate-papo rendeu um convite inesperado: o de se hospedar na casa da mulher, num acampamento de beduínos bem perto da cidade histórica.

"Foi sensacional. Fiquei com a família, brincando com as crianças", recorda Lívia.

Foi em busca de um "intensivão" de experiências memoráveis que eles largaram empregos, família e conforto em 2012. Queriam dar uma volta ao mundo. E que ela durasse bem mais do que 80 dias --como sugere o clássico de Júlio Verne, "A volta ao Mundo em 80 Dias".

Para Lívia, foram dez meses --passou por 20 países. Fernando contabilizou 25 carimbos no passaporte, nos 11 meses que ficou fora.

E eles não estão sozinhos. Muita gente, "com casa, carro e carreira", têm preferido investir o dinheiro de economias numa longa viagem --e não em imóveis e automóveis, a dupla do sonho de consumo usual.

O impulso de se jogar no mundo aumenta quando eles descobrem que o custo para o período sabático pode sair mais barato do que se pensa.

Lívia, por exemplo, gastou em média R$ 3.000 por mês, incluindo passagens, hospedagem, comida e passeios --o valor é a metade do que custa, geralmente, uma viagem de uma semana para Paris.

ECONOMIAS

"Sempre sonhamos em conhecer o mundo. Mas achávamos que era preciso ser milionário para isso. Tudo mudou quando conhecemos um casal que viajou por 8 meses com R$ 35 mil. Pensamos: é o preço de um carro", dizem Carolina Fernandes, 33, e Alexis Radoux, 33, por e-mail de Hopkins, Belize (América Central).

Depois do encontro, passaram a economizar. Cortaram gastos com roupas e sapatos. Reduziram idas a restaurantes e baladas. Até que dois anos depois, Carolina deixou o emprego na área de marketing de uma multinacional e seguiu com Alexis, professor de francês e locutor, para a estrada.

Começaram a viagem em 23 de setembro de 2011. Semanas depois, casaram-se em Las Vegas. Até a última sexta-feira, já tinham visitado 40 países e 233 cidades, feito 31 vôos e rodado 145.114 km. Devem voltar ao Brasil em julho de 2013.

A experiência se transformou em um site, que dá dicas preciosas para quem busca se aventurar como eles: o http://kikiaroundtheworld.com.

Nele, mostram o mascote Kiki, um coelho de pelúcia, em pontos históricos.

PASSAGENS

De olho no crescimento do interesse neste tipo de viagem, alianças de companhias aéreas passaram a oferecer "passagens de volta ao mundo" --com um mesmo ticket é possível fazer várias paradas.

O viajante consegue montar seu roteiro personalizado, que vai custar de acordo com a distância percorrida e a quantidade de paradas.

Os valores começam em US$ 3 mil (pouco mais de R$ 6 mil), para três paradas.

Demétrius Daffara /Editoria de Arte/Folhapress

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