Folha de S. Paulo


Análise: Risco é o cartão assegurar o subsídio a um sistema ineficaz

O Bilhete Único Mensal deverá beneficiar usuários frequentes de ônibus (10% do total de usuários), pois limitará o custo mensal do uso do ônibus, independentemente do número de viagens (que poderá suplantar 46 viagens de ônibus por mês).

O custo anual desse benefício está estimado pela prefeitura em R$ 400 milhões, valor esse que se somará ao bilionário subsídio anual do sistema de ônibus.

Bilhete Único Mensal só valerá a pena para 10% dos passageiros
Tarifas de metrô, ônibus e trens terão reajuste a partir de 1º de junho

A preocupação é que haja um subsídio à ineficiente lentidão dos ônibus.

E poderia ser questionado: esses recursos não seriam mais bem utilizados se fossem aplicados na melhoria do sistema, construindo terminais de integração onde ônibus articulados e biarticulados recolheriam passageiros de peruas e ônibus de menor capacidade e os transportariam rapidamente através de novos corredores expressos até as estações do Metrô ou da CPTM?

RISCO DE SATURAÇÃO

O Bilhete Único Mensal não vai aumentar a capacidade nem a velocidade do sistema de ônibus.

Estimulando maior uso, há um risco de saturá-lo ainda mais, atraindo viagens curtas atualmente feitas a pé.

O benefício a 10% dos usuários de ônibus na cidade, em tese, pode ocorrer às custas dos demais passageiros e de todos os moradores (já que os subsídios ao transporte vêm do imposto pago pela população).

O que vai mudar no trânsito da cidade? Nada, rigorosamente nada, pois estamos falando da facilidade tarifária para usuários frequentes de ônibus urbanos.

O maior e mais perverso custo do transporte é o desperdício inútil de várias horas diárias do trabalhador para ir e voltar do trabalho.

O salário mínimo equivale a pouco mais do que R$ 4 por hora, mais do que os R$ 3 da passagem de ônibus.

Tem trabalhador que gasta até cinco horas por dia dentro de ônibus, com custo equivalente de R$ 20 por dia, ou R$ 600 por mês. Mas isso não está sendo pago. Está sendo subtraído das famílias e das pessoas da cidade.

SERGIO EJZENBERG é engenheiro e mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo)


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