Folha de S. Paulo


Fiéis se dizem desiludidos com excomunhão de padre em Bauru (SP)

Fiéis que se dizem desiludidos com a Igreja e noivas "perdidas" lamentaram nesta terça-feira (30) em Bauru (SP) a excomunhão de padre Beto, 48, punido após dar declarações de apoio a homossexuais.

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A aposentada Maria Cristina Cervantes de Queiroz, 53, que afirma ter sido "resgatada" pelo ex-padre, agora diz que é uma ex-católica e que não irá mais às missas. "Não posso mais fazer parte. Não gosto de hipocrisia, mentira. O sentimento que sobrou foi de vergonha."

A pipoqueira Maria Inês Faneco, 52, que é homossexual, diz que sempre se sentiu acolhida e "tratada com igualdade" pelo religioso. "Para mim Igreja Católica acabou. Eu só ia por causa dele. O padre Beto não fazia aquelas missas cansativas."

Uma noiva de 34 anos que pediu anonimato diz que está "meio perdida" e que não sabe o que fazer com o casamento, que seria celebrado em dez dias pelo padre. Na mesma cerimônia, ela iria batizar o filho.

Luly Zonta/Agência Bom Dia
Mais de mil pessoas lotaram a igreja Santo Antônio, em Bauru, no domingo de manhã para de despedir das missas celebradas pelo Padre Beto que anunciou sua saída da igreja no sábado. Pedro Motta deixa um churro de adeus. Crédito: Luly Zonta/Agência BOM DIA
Mais de mil pessoas lotaram igreja em Bauru no domingo de manhã para de despedir das missas celebradas pelo Padre Beto

Outra noiva que não quis divulgar o nome foi aluna de Beto na faculdade de direito e diz que a cerimônia, marcada para outubro, "perdeu um pouco do sentido".

A Diocese de Bauru divulgou um comunicado em que o padre nomeado juiz instrutor do processo de excomunhão nega que a punição decorra das declarações em favor dos gays.

A excomunhão, segundo o juiz, veio porque Beto "se negou categoricamente a cumprir o que prometera em sua ordenação sacerdotal: fidelidade ao Magistério da Igreja e obediência aos seus legítimos pastores", afirma o juiz.

Questionado sobre a decisão da excomunhão, o padre se disse "honrado em pertencer à lista de muitas pessoas humanas que foram assassinadas e queimadas vivas por pensarem e buscarem o conhecimento".

Sem a batina, o religioso já ensaia seus próximos passos: dar aulas e palestras, escrever livros e artigos, comandar programas de rádio e seguir a carreira política. "Vou pensar se aparecer um convite."

Filho de pais católicos, o ex-padre diz que se aproximou da religião por causa da admiração a católicos progressistas como dom Paulo Evaristo Arns (SP), dom Mauro Morelli (RJ) e dom Pedro Casaldáliga (MT). "Eles falavam, e o país parava", afirma.

Depois de ser ordenado, aos 33 anos, ele foi para a Alemanha estudar teologia, onde também concluiu o doutorado em ética. "Lá encontrei liberdade para refletir e questionar. A liberdade de pensamento na Alemanha é grande", afirma.

O ex-padre também é formado em história e direito. Fez ainda curso de radialismo. Tem paixão por livros e cinema. Seus artigos para jornais são justamente baseados em filmes que assiste.


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