Folha de S. Paulo


Dilma diz que 'vale brigar' para contratar médicos estrangeiros

Diante de uma plateia de prefeitos repleta de pleitos, entre eles a contratação de médicos estrangeiros, a presidente Dilma Rousseff declarou na noite desta terça-feira (23) ser a favor de comprar a briga e "importar" os profissionais para a rede pública.

Segundo a presidente, há várias formas de espalhar médicos, em especial, pelo interior do Brasil, onde há carência maior de profissionais.

Uma delas, explica Dilma, é a redistribuição. "Você não aumenta, você redistribui. Tiramos o médico que acabou de formar, incentivamos a prestar serviço no interior do país e colocamos nas regiões mais necessárias". A outra, segundo a própria presidente, é trazer "médicos de fora".

A proposta de importar médicos, contudo, não é consenso. "Não podemos fingir que não tem resistência. Tem resistência, temos que ver se o beneficio vale a briga. Tenho que dizer que o benefício vale essa disputa e discussão", disse a presidente.

As entidades médicas no Brasil têm opinião contrária e criticam duramente a ideia de flexibilizar a entrada dos diplomas internacionais. Para o CFM (Conselho Federal de Medicina), o problema é a má distribuição de médicos.

Contudo, o Ministério da Saúde calcula um déficit de 160 mil médicos, que será suprimido apenas em 2035 se mantida a presente situação. Nesta terça, Dilma disse que a relação do número de médicos para a população brasileira "deixa a desejar quando comparados com indicadores de países avançados".

OUTROS PLEITOS

O governo federal já estuda uma forma de facilitar a atuação de médicos estrangeiros e de brasileiros formados no exterior na rede pública de saúde. Atualmente, esse ingresso é feito principalmente pelo Revalida, exame tido como difícil e com alta taxa de reprovação.

Os prefeitos, contudo, pressionam a presidente para autorizar a contratação dos estrangeiros. Nesta terça, o presidente da Frente Nacional de Prefeitos, João Coser, fez outras cobranças explícitas à presidente.

Além de importar os médicos, os prefeitos pediram, por exemplo, mais verbas para saúde, desonerações tributárias para o setor de transporte público, renegociação da dívida. "Como agradeci, agora tenho o direito de cobrar", disse Coser.

Para Coser, se as três esferas do Executivo acabarem com impostos sobre o transporte público, é possível baixar em até 25% o preço das tarifas. Ainda segundo ele, se não forem alterados os cálculos da dívida, o saldo devedor dos municípios serão "impagáveis". Lembrou ainda que muitos prefeitos recusam verbas federais para construir creches e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) porque não conseguem custear.

Dilma, contudo, afirmou que "não tem a menor condição de atender tudo que o Coser pediu". Mas a presidente prometeu atender o máximo possível. "A pauta mostra a necessidade desse diálogo entre nós. Sei que tem o momento de elogio e o de reivindicação. Isso faz parte da regra do jogo. Podemos caminhar para algum entendimento, o que vai ser atendido e o que não faz atendido. O diálogo começa, mas não termina hoje", disse a presidente.

Disse ainda pediu aos prefeitos compromisso para melhorar a gestão pública.


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