Folha de S. Paulo


Promotor responsável por condenação de PMs tinha 13 anos na época do massacre

O promotor Márcio Friggi, um dos principais responsáveis pela condenação dos PMs que participaram no Massacre do Carandiru, tinha apenas 13 anos no dia 2 de outubro de 1992. "Não me lembro pontualmente [do massacre], um menino dessa idade está pensando em outras coisas", diz sobre suas recordações do episódio que resultou na morte de 111 presos.

Análise: Condenação de PMs desencoraja abuso policial, diz advogado
Deputado acredita que decisão será revista
Veja como foi a cobertura da Folha do Massacre do Carandiru
Advogada de defesa de policiais diz que irá recorrer
Veja especial do Massacre do Carandiru

No dia, o promotor morava em São José do Campos (97 km de SP), cidade onde nasceu e viveu até os 18 anos.

Na madrugada deste domingo (21), 26 dos PMs que entraram no local foram condenados a 156 anos de detenção por participação nas mortes de 13 detentos que estavam no segundo pavimento do Pavilhão 9.

Friggi, que está no Ministério Público desde 2003, foi o responsável pela réplica na fase de debates entre a acusação e defesa. Com uma explanação mais emotiva, foi decisivo para convencer os sete jurados, segundo a avaliação de muitos presentes no plenário.

Ele discorda. "É um jogo de equipe em que as falas se complementam", diz.

Eduardo Anizelli - 21.abr.2013/Folhapress
O promotor Marcio Friggi fala com jornalistas ao sair do Fórum da Barra Funda, zona oeste de SP
O promotor Marcio Friggi fala com jornalistas ao sair do Fórum da Barra Funda, zona oeste de SP

O promotor titular do caso era Fernando Pereira da Silva, que falou primeiro. Sua fala, mais técnica, concentrou-se em detalhes das investigações: suspeita de que as armas encontradas com os presos foram plantadas pela polícia, quantos tiros foram dados, os pontos em que as balas entraram no corpo das vítimas.

A réplica de Friggi, que veio após a argumentação da advogada dos PMs Ieda de Souza, tentou derrubar a tese da defesa de que os réus deveriam ser absolvidos porque era impossível individualizar a conduta dos PMs durante a ação.

Segundo ele, a denúncia inicial falava em ação coletiva. "Se falou [da individualização] como se fosse uma barreira intransponível. Se fosse impossível, o Ministério Público sequer teria aceitado a denúncia", diz.

Ao longo de duas horas, Friggi também tentou emocionar os jurados. Para isso, exibiu um trecho do filme Carandiru e citou a letra da música "Haiti", de Caetano Veloso.
Um trecho da música finalizou dados apresentados pelo promotor em que a maioria das vítimas da Rota (tropa de elite da PM) são pretos e pobres.

PERFIS

Durante a réplica, o promotor contou que muitos dos presos que morreram na ação já tinham direito à liberdade, mas continuavam detidos, eram pais de família, réus primários ou não tinham condenações definitivas.

Ele falou de um detento, morto no massacre, que estava preso porque roubou um ônibus usando uma faca. Segundo o promotor, o detento confessou ao cobrador do veículo que o estava roubando para comprar o leite de seus filhos. Levou, em valores atualizados, R$ 12.

"Esse era o monstro que mereceria ter sua pena privativa de liberdade transformada em pena de morte?", questionou o promotor.

Friggi também falou sobre o perfil dos PMs que, em sua maioria, eram acusados de terem matado outras pessoas.

PERFIL

Márcio Friggi estudou Direito em Franca, no interior do Estado, e veio para a capital após terminar o curso.

Tem 34 anos e virou promotor porque queria atuar no Tribunal do Júri. "A ideia de promover justiça e atuar no Tribunal do Júri foi fundamental para a minha entrada no Ministério Público", diz.

Em dez anos no Ministério Público, o promotor trabalhou no julgamento do prefeito de Santo André (Grande SP) Celso Daniel (PT). Na ocasião, três réus foram condenados.


Endereço da página:

Links no texto: