Folha de S. Paulo


'Não é a vontade da sociedade', diz defesa dos policiais condenados

A advogada Ieda Rodrigues de Souza disse ter recebido a notícia da condenação de seus clientes com "grande frustação" por não refletir o desejo de grande parte da população, como se pode verificar pelas redes sociais na internet.

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"Se nós cogitarmos das redes sociais para cá, não é essa a vontade da sociedade brasileira. Eu não esperava nenhuma condenação. Esperava o reconhecimento da ação legítima", afirmou.

Ainda segundo ela, os PMs condenados não têm que se arrepender do que fizeram no Carandiru. "Se arrependerem do quê? De terem entrado, de terem feito o serviço deles? Não há motivos."

Ieda disse que vai tentar a anulação do julgamento por acreditar que a decisão dos jurados não tem base nas provas existentes no processo.

"Há uma decisão manifestamente contrária às provas dos autos", afirmou. "Eu não posso ter crime qualificado quando tenho policiais dessa tropa feridos."
A advogada afirmou ainda não ver falhas na estratégia de defesa e que acredita ser possível conseguir inocentar os outros PMs que serão julgados nos próximos meses.

Ela disse que os PMs foram condenados por uma diferença de um jurado: 4 a 3 (resultado de alguns quesitos analisados pelos jurados).

"Na minha defesa, não deu nada errado. São sete jurados, e não tenho condição de controlar o entendimento de nenhum deles. Vou ter um novo conselho de sentença [no próximo júri]. Vou ter novas pessoas trabalhando para entender o caso."

Ieda disse que outras pessoas também deveriam ser julgadas pelo massacre do Carandiru, como o ex-governo Luiz Antonio Fleury Filho e o então secretário da Segurança, Pedro Franco de Campos.

"Eu acho que houve uma participação importante e decisiva dessas pessoas. E criminosa quando eu tenho a responsabilidade que o promotor quis imputar: a teoria do domínio do fato, que é a responsabilidade de todos. Porque só dos policiais?"

A advogada afirmou que a decisão poderá interferir no trabalho realizado pela própria polícia nas ruas. "Eles vão cumprir o seu dever, mas vão pensar um pouco mais antes de fazê-lo. É um risco para toda a sociedade." (LEANDRO MACHADO, ROGÉRIO PAGNAN E TALITA BEDINELLI)

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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