Folha de S. Paulo


'Policial reage à altura quando sente a ameaça', diz PM em júri

O policial militar Aércio Dornellas, que agiu durante a invasão da penitenciária do Carandiru, em outubro de 1992, afirmou nesta sexta-feira que não foram feitos disparos na direção das celas, apenas nos corredores. Segundo ele, havia presos armados e, por conta disso, houve confronto.

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O julgamento foi suspenso por volta das 20h e deverá ser retomado no sábado (20), com os debates entre acusação e defesa. Depois disso, os jurados deverão decidir se os policiais serão condenados ou não pelo massacre.

"Houve um confronto, estampidos e as luzes [vindas das celas]", conta ele. "O policial reage à altura quando sente a ameaça", completou o PM, que chegou a atuar como comandante da Força Tática da PM durante os ataques da facção criminosa PCC em 2006.

Ao todo, 24 PMs foram chamados para depor hoje, mas 20 deles não quiseram se defender e usaram o direto de permanecer calados. Eles afirmaram que seguiram orientação da advogada Ieda de Souza e, também, uma forma de não cansarem os jurados.

Foram ouvidos os dois oficiais responsáveis pela ocupação do segundo pavimento do pavilhão 9, o então capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos (hoje tenente coronel da reserva) e o então tenente Aércio Dornellas Santos (hoje major da reserva).

Ambos afirmaram que, como comandantes da Rota, receberam ordens para ocupar o andar. Cada um deles foi responsável pela invasão de um lado do corredor. Ronaldo, do lado direito. Dornelles, do esquerdo.

Ao todo, 26 policiais estão sendo julgados desde segunda-feira (15). Dois deles, porém, não compareceram em nenhum dos dias de júri. Outros três julgamentos de outros policiais acusados pelas 111 mortes de detentos durante a invasão deverão ocorrer.

Além de Dornellas, foram ouvidos também o então sargento Marcos Antônio de Medeiros, que, durante a ação, portava uma metralhadora. Ele disse que atirou três ou quatro vezes e que não usou a arma no sistema de rajadas. Nos primeiros dias, as testemunhas de acusação disseram ouviram rajadas de metralhadoras durante a invasão.

O soldado Marcos Ricardo Polionato, que agora trabalha no Corpo de Bombeiros, também depôs e disse que, na ação, foi ferido de raspão por uma bala. Sua versão foi contraditória com o depoimento que deu na fase de inquérito. Na época, ele disse que tinha visto 10 a 15 corpos de presos. Hoje, ele afirmou que viu oito.

Já o Ronaldo Ribeiro dos Santos afirmou que "não houve condições de usar armas não letais. Não existia balas de borracha". Ele completou ainda: "Nós entramos, reagimos e dominamos".

Editoria de Arte/Folhapress
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