Folha de S. Paulo


Suspenso, júri sobre mortes no Carandiru volta apenas amanhã

O juiz José Augusto Marzagão informou na tarde desta quarta-feira que o julgamento dos 26 policiais militares acusados de participar do massacre que matou 111 presos na penitenciária do Carandiru será retomado na quinta-feira (18). Os trabalhos de hoje foram suspensos após um jurado passar mal.

Acompanhe o julgamento do massacre ao vivo
A necessidade da entrada da PM era 'incontestável', diz ex-secretário
'Ordem para entrar no Carandiru foi necessária e legítima', diz Fleury

Segundo Marzagão, o jurado reclamou que não se sentia bem ainda no início da manhã, mas afirmou que queria continuar no julgamento. Com isso, ele foi atendido por médicos, que recomendaram repouso. "O que não posso é colocar em risco a saúde de um jurado", disse o juiz sem especificar o que o jurado teve.

Ontem à noite, a Folha ouviu uma conversa no plenário entre o juiz e uma funcionária que indicava que uma mulher passava mal e necessitaria de atendimento médico.

Logo depois, o julgamento foi suspenso. Questionada após o episódio se algum jurado havia passado mal, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça negou. Na semana passada, o órgão também havia negado que uma jurada passava mal, mas em seguida foi anunciado que o julgamento seria adiado.

JULGAMENTO

O julgamento foi interrompido ontem durante a leitura das peças processuais. A expectativa é que elas sejam concluídas na manhã de quinta e depois tenha início do interrogatório dos réus.

Foram ouvidas ontem (16), seis testemunhas de defesa. Entre elas estava o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho, que afirmou durante os 40 minutos de depoimento que "a ordem para a entrada [no presídio do Carandiru] foi absolutamente necessária e legítima, apesar de não ter ordenado a invasão.

Além de Fleury, foi ouvido também o ex-secretário de segurança de São Paulo Pedro Franco de Campos. Ele afirmou que "a necessidade de entrada da Polícia Militar na Casa de Detenção era absolutamente incontestável.

Campos disse que foi informado pelo coronel Ubiratan Guimarães de que era necessário invadir o pavilhão 9 do Complexo do Carandiru devido à rebelião que acontecia no local. Segundo ele, as autoridades temiam que o confronto entre presos se estendesse também para o pavilhão 8. "Havendo necessidade, o senhor está autorizado a entrar", disse ele ao coronel que comandou a invasão.

Foi ouvida ainda a juíza Sueli Zeraik Armani, convocada pela defesa para falar de rebeliões em presídios do Estado. O depoimento durou cerca de dez minutos.

Mais cedo foi ouvido o desembargador Luiz Augusto San Juan França, que afirmou ter havido confronto entre presos e policiais no dia da invasão. A afirmação contradiz as testemunhas ouvidas ontem, que afirmavam ter havia agressão por parte dos PMs. "Na nossa sindicância, sei que havia policiais feridos, mas não me recordo se por arma de fogo", afirmou ele.

Já tinha sido ouvido ainda o desembargador Fernando Antonio Torres, juiz da Corregedoria dos presídios na época do massacre. Ele também voltou a dizer que houve ataque dos presos contra os PMs, mas destacou que houve excesso na ação da Polícia Militar durante a invasão do local.

Um dos juízes que participaram das reuniões que autorizaram a entrada da tropa, hoje o desembargador Ivo de Almeida, disse que não viu nenhum preso sendo executado pelos PMs durante o massacre de 1992, como afirmou ontem (15) o ex-diretor do Carandiru Moacir dos Santos.

Almeida afirmou ainda que a entrada da PM foi necessária porque a unidade estava fora de controle. "Nossa preocupação era manter a integridade física deles. Poderia haver uma carnificina lá dentro", disse.

Editoria de Arte/Folhapress
Clique para ler
Clique para ler

Endereço da página:

Links no texto: