Folha de S. Paulo


'É absoluta a certeza de que não houve tiro contra PMs', diz perito

O perito criminal Osvaldo Negrini Neto afirmou na noite desta segunda-feira que nenhum disparo foi feito contra os policiais militares que invadiram o Carandiru no dia do massacre que matou 111 presos em 1992. Ele foi a última defesa de acusação a ser ouvida neste primeiro dia de julgamento.

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"É absoluta a certeza de que não houve disparo contra os atiradores", disse o perito que acrescentou ainda que não foi apresentado nenhum equipamento de policiais (capacete e colete à prova de balas, por exemplo) que tivesse marcas de alguma possível agressão por parte dos presos.

O júri será retomado por volta das 9h de terça-feira já com as testemunhas de defesa. Não foi informado, porém, quem será o primeiro a depor.

O perito já tinha dito mais cedo que a polícia não queria que fosse feita perícia no interior da penitenciária após o massacre e que foi impedido de entrar no local após o crime.

"Entrei, depois, escondido no carro de um delegado", disse. "Havia poças de sangue nas galerias. O sangue chegava na canela. Parecia uma enchente". Os corpos, disse ele, estavam nos corredores e não mais dentro das celas. Segundo Negrini Neto, essa movimentação dos cadáveres prejudicou o trabalho da perícia.

Ele disse ainda que voltou ao local no dia seguinte ao massacre e que encontrou o presídio modificado. "Ficou claro para mim que não queriam que fosse feita a perícia. O local foi lavado, as celas já estavam reorganizadas. A única coisa que não conseguiram mudar foram os indícios de marcas de bala nas paredes das celas", afirmou.

1º DIA

Antes de Negrini Neto, foi ouvido o agente penitenciário Moacir dos Santos. Ele definiu o episódio como uma execução e disse ainda que mesmo após o Massacre, presos que já estavam no pátio, rendidos, nus, foram levados pela polícia de volta para o prédio para retirar corpos de mortos e acabaram fuzilados.

Antes dele, foram ouvido ainda três ex-detentos do Carandiru. Luiz Alexandre de Freitas disse ter sobrevivido porque se escondeu sob corpos. "Escondi debaixo dos mortos para não morrer também",

Outra testemunha foi Marco Antônio de Moura, que afirmou que policiais atiraram em direção à cadeia de dentro de um helicóptero. "Tinha presos que estavam no telhado, tentando fugir. Todos foram atingidos por essas balas e morreram".

Foi ouvido ainda o ex-detento, Antônio Carlos Dias, que disse acreditar que o número de mortos no massacre foi ao menos o dobro dos 111 divulgados oficialmente. "Só os corpos que vi saindo do segundo andar eram mais de cem pessoas. Esses 111 eram as pessoas que tinham família, que recebiam visitas", disse.

Editoria de Arte/Folhapress
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