Folha de S. Paulo


Delegado diz ter certeza da culpa de Mizael na morte de Mércia

O delegado Antônio Assunção de Olim, responsável pela investigação da morte da advogada Mércia Nakashima, disse nesta terça-feira que o ex-namorado dela Mizael Bispo de Souza tem culpa no crime. A afirmação ocorreu durante depoimento que durou mais de cinco horas nesse segundo dia de julgamento.

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Ao ser questionado sobre a participação de outras pessoas no crime, Olim afirmou ter certeza que "foram só os dois" --Mizael e o vigia Evandro Bezerra Silva. Inicialmente, os dois seriam julgados ao mesmo tempo, mas o caso foi desmembrado e o júri do vigilante foi adiado para 29 de julho.

Segundo o delegado, os principais indícios para crer que os dois são culpados são o percurso do carro de Mizael, refeito nas investigações a partir do rastreamento do sinal do GPS instalado no veículo, e as diversas ligações telefônicas dele a Evandro.

No depoimento de hoje, os advogados de Mizael tentaram desqualificar a investigação comandada por Olim. A inquirição da defesa chegou a irritar a testemunha diversas vezes, assim como o juiz Leandro Cano, que ameaçou mais de uma vez instaurar o sistema presidencialista caso as perguntas continuassem a ser acrescidas de comentários.

O advogado de defesa Ivon Ribeiro confrontou ainda o vídeo em que Evandro aparece depondo no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) apontando que a versão transcrita nos autos estava diferente. Nesse momento, foi a vez do promotor se exaltar com o advogado. "O senhor é desleal e mentiroso! O diabo é o pai da mentira. O senhor é amigo do diabo!", disse o promotor Rodrigo Merli Antunes.

Os advogados alegaram que o delegado entrou em contradições e não sabia informações importantes e se contradizia sobre a investigação. Uma delas é que foi encontrado um cigarro com saliva feminina no carro de Mizael, e Mércia não fumava.

Os advogados também questionaram se o delegado sabia que Mizael jogava futebol em Várzea Paulista (a 54 km de São Paulo), local onde ocorreu o crime. A intenção era mostrar que as algas encontradas no sapato de Mizael após o crime pode ter grudado em uma das visitas ao município.

Ontem, o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo afirmou em depoimento que as algas são as mesmas encontradas na região da represa de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo, local onde foi encontrado o corpo de Mércia.

1º DIA

O primeiro dia de júri foi marcado por provocações e discussões entre as duas partes.

Uma das testemunhas ouvida foi o engenheiro Eduardo Amato Tolezani, que afirmou que que a versão de Mizael de que estava estacionado no Hospital Geral de Guarulhos (na Grande São Paulo) na hora da morte de Mércia não é possível, de acordo com os registros telefônicos do celular dele.

Mizael havia dito durante as investigações que estava com uma prostituta, em seu carro, na noite do crime. O engenheiro, no entanto, cruzou as informações enviadas pela operadora de telefonia Oi com os dados do GPS do carro do policial aposentado, o que contesta a afirmação.

O estudo, feito a pedido do Ministério Público, mostrou que, enquanto o GPS do carro apontou que o veículo estava no estacionamento do hospital, ligações feitas e recebidas pelo celular de Mizael, usavam antenas de telefonia que não atendiam aquela área.

Antes de Tolezani, prestou depoimento o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, que analisou os sapatos de Mizael e afirmou que havia neles a mesma alga encontrada na represa de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo), onde o corpo de Mércia foi encontrado.

"O sapato analisado foi submerso na água da represa. Não há outra hipótese para essa alga estar lá", afirmou a testemunha. Apesar disso, ele afirmou que a alga existe sim em outros locais do Estado de São Paulo.

Também foi ouvido no plenário Márcio Nakashima, irmão de Mércia. Ele disse que o réu fazia ameaças e perseguia a vítima. "Quando ele não conseguia falar com ela, ele saía atrás dela. Ele gostava de controlar o que ela fazia", afirmou.

Márcio disse ainda que, mesmo após o fim da parceria profissional --eles eram sócios em um escritório de advocacia-- e do relacionamento, Mizael continuava passando em frente ao prédio da vítima. O acusado também ligava repetidamente para o celular de Mércia, o que fez com que ela trocasse o número do celular diversas vezes.

Durante o depoimento de Márcio, Mizael foi retirado do plenário a pedido do Ministério Público. De acordo com a acusação, a testemunha se sentia ameaçada pelo réu. A defesa contestou que, por ser advogado, Mizael faria sua autodefesa, porém o juiz deu seu parecer favorável à Promotoria.

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CRONOLOGIA DO CASO MÉRCIA

Divulgação
Mércia Nakashima, encontrada morta na represa de SP
Mércia Nakashima, encontrada morta na represa de SP

23 de maio de 2010
A advogada Mércia Nakashima desaparece após almoçar com a família

10 e 11 de junho
O carro da advogada é encontrado na represa de Nazaré Paulista (64 km de SP) no dia 10 de junho, e seu corpo no dia seguinte

25 de junho
A Justiça de São Paulo decreta a prisão preventiva do vigia Evandro Bezerra Silva, depois de ele não aparecer para prestar depoimento no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa)

9 de julho
O vigia Evandro Bezerra Silva é preso na cidade de Canindé do São Francisco, em Sergipe

10 de julho
Justiça decreta a prisão temporária de Mizael Bispo de Souza, 40, ex-namorado da advogada Mércia Nakashima, suspeito de ter participado do crime

Andre Vicente/ Folhapress
Carro da advogada Mércia Nakashima é retirado de uma represa em Nazaré Paulista (SP)
Carro de Mércia é retirado da represa em Nazaré Paulista (SP)

14 de julho
Justiça suspende pedido de prisão de Mizael, que não chegou a ser preso

2 de agosto
O Ministério Público oferece denúncia (acusação formal) contra Mizael e Evandro por homicídio qualificado e ocultação de cadáver

3 de agosto
A Justiça de Guarulhos aceita a denúncia e decreta a prisão preventiva dos dois acusados

4 de agosto
O advogado de Mizael Bispo de Souza, Samir Haddad Junior, entra com pedido de habeas corpus. Mizael não se entrega e é considerado foragido

5 de agosto
A desembargadora Angélica de Almeida, da 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça, suspende a prisão preventiva de Mizael

9 de agosto
A 12ª Câmara de Direito Criminal do TJ suspende a prisão preventiva de Evandro

11 de agosto
Polícia faz a reconstituição de parte do dia em que Mércia Nakahima desapareceu. A polícia refez os passos de Mizael das 11h do dia 23 de maio até por volta de 18h40. Mércia teria sido vista pela última vez por volta de 18h30. Segundo o delegado Antônio de Olim, que coordenou a investigação, a vistoria serviu para reforçar as contradições no depoimento de Mizael

31 de agosto
O Instituto de Criminalística entrega à Polícia Civil e ao Ministério Público o laudo sobre a morte de Mércia. A principal evidência apresentada no documento é uma alga encontrada em um sapato de Mizael, que seria compatível com espécie presente na represa de Nazaré Paulista onde o corpo dela foi encontrado

18 a 21 de outubro
Justiça de Guarulhos ouve 21 testemunhas do caso, além dos dois acusados, durante audiência de instrução

7 de dezembro
Juiz decreta a prisão preventiva de Mizael e Evandro e decide levar os dois acusados a júri popular. Os dois não se entregam e são considerados foragidos

17 de dezembro
Os advogados de defesa de Mizael e Evandro entram com recursos contra o decreto da prisão preventiva no Tribunal de Justiça

27 de dezembro
A desembargadora Angélica de Almeida, da 12ª Câmara Criminal do TJ, nega habeas corpus em favor de Mizael e Evandro

10 de janeiro de 2011
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) nega pedido de habeas corpus feito pela defesa de Mizael

24 de fevereiro de 2012
Mizael se entrega à Justiça após mais de um ano foragido. Advogado diz que pediu prisão domiciliar para ele

21 de março
A 12ª Câmara de Direito Criminal do TJ mantém decisão de levar Mizael e Evandro a júri popular

15 de maio
A 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) nega pedido de habeas corpus a Mizael

23 de junho
Evandro é preso no povoado de Candú, zona rural de Carneiros, sertão de Alagoas


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