Folha de S. Paulo


Análise: Em luto, cachorro busca seu símbolo de proteção

Para os cães, nós, os donos, não somos Ana, João ou Maria. À luz dos sentidos caninos, comandados pelo olfato e a audição, somos aglomerados de cheiros e sons que, quando se aproximam, anunciam a melhor parte do dia -comida, brincadeira, passeio ou, simplesmente, o fim do período de solidão.

Labradores visitam diariamente lago onde dono morreu afogado em SP

O psiquiatra John Bowlby, pai da Teoria do Apego, dizia que recém-nascidos criam vínculos com seus cuidadores baseados na necessidade de segurança e proteção, a fim de sobreviver. Não é diferente com os cães.

E, se considerarmos que as emoções mais básicas como fome, dor, medo, ansiedade e felicidade são processadas pelas porções mais primitivas do cérebro, comum aos vertebrados, fica razoável aceitar que os cães possuam essas mesmas reações.

Faça agora um exercício. Imagine que você é um ser tomado de ansiedade e medo por ter visto desaparecer o conjunto de cheiros e sons que garantia seus melhores momentos. Você não entende a morte, não tem a capacidade de racionalizar. O que você faria?

Parece óbvio esperar que você iniciasse uma busca por sua desaparecida fonte de bem-estar. E buscaria até a exaustão ou até que alguém desencadeasse em você aquelas prazerosas sensações.

Por isso, nada melhor para um cão em luto do que um novo dono disposto a brincar com ele, alimentá-lo e protegê-lo. Alguém que mostre a ele que a vida continua.


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