Folha de S. Paulo


Após tragédia de Santa Maria, cidades gaúchas desistem de Carnaval

Por segurança, luto ou pressão popular, uma série de municípios gaúchos cancelou suas festas de Carnaval após a tragédia de Santa Maria.

As razões oficialmente alegadas são "respeitos às famílias", "falta do que comemorar" ou "solidariedade". Mas também há quem fale em "prudência".

No município de Lavras do Sul (a 325 km de Porto Alegre), o prefeito Alfredo Borges (PP) baixou um decreto afirmando que tomou a decisão levando em conta a "imprevisibilidade" do número de pessoas no evento, a escassez de médicos e policiais e a falta de alvarás dos bombeiros nos locais que promovem festas.

A Folha identificou ao menos 13 cidades com festas canceladas, além de Santa Maria. Um dos argumentos dos municípios é que houve moradores entre as vítimas do incêndio.

Em Bagé, no sul do Estado, a prefeitura promete indenizar os organizadores.

A associação Avajaces, que coordena bailes de Carnaval em clubes de seis cidades na região de Santa Maria, diz que foi "execrada" em uma rede social ao cogitar manter a programação após a tragédia da boate Kiss. Acabou suspendendo tudo.

"Foi uma coisa impressionante. Os presidentes [de clubes] disseram que não aguentavam mais a pressão. Recebemos muitas manifestações", diz Arnildo Wendling, da associação.

O público-alvo dessas festas são justamente universitários da região de Santa Maria, o mesmo perfil dos mortos na casa noturna. Em anos anteriores, diz a associação, os bailes traziam milhares de turistas a essas pequenas cidades, fazendo a população praticamente duplicar.

ESCOLAS DE SAMBA

O trauma do desastre de 238 mortos também forçou uma revisão dos padrões de segurança em festas pelo Estado.

Em Porto Alegre, o Ministério Público cobra do município mais precauções no local do desfile das escolas de samba da cidade, programado para hoje e amanhã, e cogita um pedido de interdição.

A Promotoria afirma que o complexo está com o alvará de prevenção de incêndio vencido. O local chegou a ser interditado há um ano por falta dessa licença. A prefeitura afirma que a estrutura da pista é móvel e que por isso o aval para questões de segurança somente pode ser dado às vésperas do desfile.

Um outro grande evento do Estado também foi afetado pela tragédia: a direção do Planeta Atlântida, principal festival de música do Sul, suspendeu a edição que estava marcada para o fim de semana passado. Havia a expectativa de público de cerca de 50 mil pessoas por noite. O evento foi remarcado para depois do Carnaval.


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