Folha de S. Paulo


'A Kiss era um sonho para mim', diz dono da boate após incêndio

O advogado de Elissandro Spohr, o Kiko, sócio da boate Kiss, divulgou na internet um vídeo em que seu cliente fala sobre o incêndio na casa noturna ocorrido no último dia 27 e que causou a morte de 237 pessoas em Santa Maria (RS). O gravação foi feita no hospital, onde o proprietário está internado desde o acidente.

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"Pra mim, a Kiss era um sonho", afirmou ele na gravação. "Eu estava vivendo um sonho. Nunca tive uma vida tão boa, e acabou. Eu não vou poder voltar a morar em Santa Maria, eu não sei se vou viver preso, eu não tenho mais banda, eu não sei se ainda tenho amigos", completou Kiko, que deve deixar o hospital ainda hoje.

Ele irá para a prisão, mas ainda não foi definido para qual unidade ele irá. Spohr é uma das quatro pessoas que tiveram a prisão decretada após o incêndio. Já estão presos o outro dono da casa noturna e dois membros da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na casa no momento do acidente.

Veja vídeo

"A boate era uma coisa que eu queria há anos. Eu sempre falei pra todos que a Kiss não era minha, era nossa. Eu tenho certeza que todos me conheciam e eu conhecia todos. Eu saí e me perguntei se não era melhor ter ficado lá dentro, se poderia salvado mais gente", afirmou Kiko no vídeo feito pelo advogado Jáder Marques.

Segundo os médicos, Spohr foi internado porque havia inalado fumaça tóxica e estava muito abalado com o incêndio. O médico responsável pelo tratamento, Paulo Viecili, disse que uma avaliação feita por um psiquiatra apontou que não há indicação de transferência para um hospital psiquiátrico.

Como o empresário já estava internado quando foi decretada a prisão, acabou permanecendo no hospital, vigiado por policiais dentro do quarto. A mulher do empresário, grávida, também estava na festa na boate Kiss e ficou alguns dias internada no mesmo quarto do hospital. Ela recebeu alta na semana passada.

INVESTIGAÇÃO

Cinco peritos do IGP (Instituto Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul voltaram para a boate kiss, na manhã desta terça-feira, para coletar mais materiais para análise e determinar, entre outras coisas, o local exato do início do incêndio.

Entre os peritos estavam especialistas na área química, elétrica e de engenharia civil. Eles chegaram por volta das 7h e deixaram o prédio às 11h40. Para fazer os trabalhos dentro da boate, os técnicos tiveram que usar um gerador. Essa foi a terceira e está prevista para ser a última perícia no local.

Ontem, o vendedor Flávio Boeira, que trabalha em uma loja de colchões, afirmou que vendeu 12 lâminas de espuma de poliuretano para a Kiss. Segundo a polícia, o material revestia parte do teto e das paredes da boate e pode ter sido o ponto inicial do fogo.

Também ontem, um parecer técnico do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) do Rio Grande do Sul apontou que a boate usou de maneira indevida um sistema simplificado de registro de planos de prevenção contra incêndio junto ao Corpo de Bombeiros do Estado.

De acordo com o relatório, a direção da casa noturna obteve um alvará de prevenção, em 2009, não assinado por um profissional especificado como responsável técnico. O parecer do conselho aponta ainda que um acúmulo de falhas contribuíram para o número de mortes.

Editoria de Arte/Folhapress
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